Nós vamos vencer a Argentina?


Aparentemente o Brasil quer ganhar o campeonato de óbitos por gripe suína com a Argentina. A estratégia de minimizar as diferenças entre o H1N1 pândemico e o H2N2 sazonal parece que está dando certo. A tática de racionar o Tamiflu também dá resultados. Nosso técnico Temporão está com a bola toda e chama seus críticos de patéticos...

Segundo os últimos dados, a Argentina contabiliza 337 mortos, estando ainda sob investigação mais quatrocentos mortos que o vice-ministro da saúde considera como muito provavelmente serem originários de gripe suína. Assim, supondo uns 700 óbitos, esse número não fica longe do limiar apostado com Igor Santos do blog 42, ainda mais pelo fato de que a populaçao argentina é bem menor que a brasileira. E a epidemia ainda lá ainda vai ter um repique com a volta às aulas nesta semana. Ainda do Estadão:

Durante um seminário na Academia Nacional de Medicina, um dos mais prestigiados infectologistas do país, Daniel Stamboulian, estimou que 20% da população argentina foi contaminada pela gripe suína. Isto equivale a um total de 7,5 milhões de pessoas que já foram contagiadas em toda a Argentina desde o primeiro caso, no dia 7 de maio.

O nosso Ministério da Saúde tem o mérito de ter conseguido adiar nossa epidemia por cerca de um mês (embora talvez o dinheiro gasto neste esforço tivesse impacto mais permanente se usado para aparelhas novas UTIs), mas não vejo como escaparmos da sina da Argentina. É verdade que o brasileiro é mais medroso e menos cético que o argentino (o tal youtube conspiratório é argentino, não?) e isso pode ser uma vantagem. O "pânico" pode ser útil quando ele implica em conscientização geral, mais verbas para o Ministério da Saúde e treinamento no enfrentamento de epidemias em geral (e a nova onda no outono que vem).

Proponho aqui mais uma aposta com o Igor (o Carlos Hotta, pelo que me lembro, também casou a primeira aposta): aposto que no jogo Brasil x Argentina, em setembro, nosso time estará desfalcado por ter algum jogador com gripe suína. Valendo mais um kit de cervejas Colorado. Isso se o jogo não for adiado...

oOo

Para que eu seja bem entendido: eu confio totalmente na capacidade "técnico-científica" do ministro. Ele sabe que seria muito melhor distribuir Tamiflu como se faz no Reino Unido, caso tívessemos estoque suficiente. A possível adaptação do virús ao Tamiflu é uma racionalização, não uma razão, e ele também sabe disso. O ministro é um sanitarista competente.

O que me irrita retórica tranquilista (tucanismo, segundo José Simão) do porta-voz do ministério, que infelizmente ficou a cargo da mesma pessoa. Acho que no ano que vêm deveriam designar um jornalista ou apresentador de TV para o cargo, a fim de evitar o desgaste que o ministro sofre ao ter suas declarações desmentidas pela OMS e pelos outros médicos do Brasil. Isso gera um clima de paranóia nada salutar. Como disse John Barry:

Although a false alarm can be damaging, it is not nearly as damaging as silence — the type of silence that makes people believe the truth is being withheld. That is how trust disintegrates and how rumours — passed in the streets in 1918, today passed over Internet blogs — take hold and grow.

I don’t much care for the term ‘risk communication’. It implies that the truth is being managed. The truth should not be managed, it should be told. Only by knowing the truth can imaginary horrors be transformed into concrete realities. And only then can people start to deal with those realities, and do so without panic.

John M. Barry is a Distinguished Scholar at the Center for Bioenvironmental Research of Tulane and Xavier Universities, New Orleans, Louisiana 70112, USA. He is author of The Great Influenza: The Epic Story of the Deadliest Plague In History.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O SEMCIÊNCIA mudou de casa

Aborto: um passo por vez