Gripe suína: uma aposta científica
Uma das características do discurso científico (embora não apenas dele) é a capacidade de mudar suas crenças e estratégias a partir de dados novos.
Como eu já esclareci antes, uma das maneiras de verificar a força das crenças de uma pessoa é mexer no bolso dela, ou seja fazer apostas científicas. Em uma aposta, as pessoas param para refletir mais racionalmente, em vez de emitir frases de efeito ou sofismas. Assim, eu gostaria de propor uma nova aposta científica, de novo enfatizando que seu o bjetivo é didático e que não envolve insensibilidade frente a assuntos tão sério como a morte de pessoas.
O ministro Temporão agarra-se agora ao fato de que "o indicador mais adequado é o número de óbitos por cem mil habitantes". Concordo inteiramente, eu ensinei isso segunda feira passada para minhas (meus) alunas (os) de Estatística para Pedago.
Sim, a taxa por cem mil habitantes no Brasil é a sétima no mundo. Mas tem duas pequenas semi-verdades nas colocações do ministro:
- A epidemia ainda não atingiu seu pico no Braisl (a despeito da perda de interesse da imprensa), de modo que a taxa vai aumentar. Já nos outros países com taxas maiores o pico da epidemia já passou.
- O número de óbitos está subestimado, porque os exames confirmatórios estão atrasados em até 30 dias.
Portanto, enfatizando aqui o caráter didático-científico, aposto um kit de cervejas Colorado (R$ 37,00) que dentro de um mês o ministro vai ter que digerir suas palavras, e o Brasil terá a maior taxa por cem mil habitantes do mundo. Alguém topa?
Comentários
Ele, certamente, não acredita nas coisas que diz e sabe exatamente quais foram os erros cometidos.
Daí me pergunto: quanto vale jogar um diploma e um reconhecimento profissional no lixo? O que se ganha em troca?