Uma mentira repetida mil vezes... tem alto fitness.


Preciso ler o artigo original, que está aqui. Talvez dê para adaptar o modelo de evolução cultural de Kinouchi et al. (2008) para esse problema.


RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Com muita frequência, remédios alternativos falham em mostrar sucesso ao serem submetidos a testes clínicos. Mesmo assim, produtos de eficácia duvidosa --como extrato de Gingko biloba (receitado contra demências) e raspas de barbatana de tubarão (contra câncer)-- parecem estar proliferando cada vez mais. Segundo um novo estudo, porém, não há contradição aí: é justamente pela qualidade de serem inócuas que essas "receitas milagrosas" ganham terreno.

Essa conclusão "contraintuitiva", conforme reconhecem os autores do trabalho, saiu de um modelo matemático que simula como a adoção de um determinado tratamento se dissemina numa sociedade. Em artigo científico na revista "PLoS ONE" (www.plosone.org) o biólogo e matemático Mark Tanaka, da Universidade de Nova Gales do Sul (Austrália) explica com mais dois colegas como chegou a esse resultado.
Segundo o pesquisador, a disseminação de práticas médicas sem comprovação de eficácia é, por um lado, um fenômeno ligado à automedicação. Por outro, inclui práticas de curandeirismo em comunidades onde não há médicos. Como pessoas tendem a aprender as coisas por imitação, os remédios que são usados de maneira crônica sem nunca levarem à cura tendem a ganhar mais propaganda, porque passam mais tempo sendo usados.

"Nós mostramos que os tratamentos que proliferam não são necessariamente aqueles mais eficazes em curar a doença", escrevem Tanaka e colegas. "Explicamos por que "tratamentos supersticiosos" com pouca eficácia e mesmo práticas inadequadas podem se espalhar em diversas condições." Assinam também o estudo o antropólogo Jeremy Kendal, da Universidade de Durham, e o biólogo Kevin Laland, da Universidade de Saint Andrews, ambas no Reino Unido.

A união de três especialidades científicas em um mesmo estudo ocorreu porque o trabalho é uma simulação estatística aplicada a fenômenos evolutivos de comportamento.

Os pesquisadores partem do princípio de que existe um tipo de "seleção natural" entre boas e más práticas. Quando se trata de interação social, porém, práticas nocivas podem ser mais "adaptadas" a sobreviver numa comunidade, desde que consigam se disseminar rápido.

Para formular a equação que levou a essa conclusão, os pesquisadores partiram do princípio de que o que torna um remédio popular é a "cópia não enviesada", ou seja, quanto mais um remédio aparece sendo usado por alguém, mais ele tende a ser adotado por outros.

Propaganda prolongada

"A cópia não enviesada de novos tratamentos pode frequentemente levar à prevalência de práticas ineficazes porque tais tratamentos são demonstrados com mais persistência do que as alternativas eficazes", escreve Tanaka.

Segundo o pesquisador, quando um remédio se mostra ineficaz para uma pessoa por longo tempo, é claro que tende a ser abandonado. No caso de alguns tratamentos, porém, a "propaganda" que o doente faz da droga inócua se prolonga por tanto tempo que a desistência só ocorre depois de muitas pessoas terem sido influenciadas, indica a simulação.

É um efeito estranho, similar às bizarrices descritas no best-seller "Freakonomics". A cópia não enviesada, porém, é uma "suposição simples" usada para a simulação, reconhece Tanaka. Ele defende, contudo, que o fenômeno "está próximo da realidade". O mesmo se aplica à popularidade de nomes de bebês e de raças de cachorros, diz o cientista.

Comentários

Unknown disse…
acabei de ler esse artigo no site da folha e pensei em vir comentar aqui, aí vi que você foi mais rápido.
eu ainda não li o artigo, mas se o estudo propôs um modelo pra esse tipo de comportamento ele não poderia ser aplicado em outras fenômenos que envolvem relação de humanos, como na economia (o pânico viral dos investidores por causa dessa crise), a moda ou até mesmo ramos da psicologia?

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