Por que eu ando postando tanto sobre gripe suína?


Uma análise preliminar reportada na New Scientist afirma que a taxa de ramificação sigma da gripe suína é de 1.16, ou seja, cada caso gera, em média, 1.16 novos casos.  Isso significa que sua propagação atual é levemente supercrítica (sigma = 1.0 é o ponto crítico). Uma função exponencial com essa taxa de crescimento  de 1.16 está plotada acima.

Se este número se confirmar, fica explicada a decolagem lenta da epidemia, ou seja, porque os números oficiais não revelam a verdadeira dinâmica epidêmica. Na criticalidade, o crescimento do número de casos é polinomial em vez de exponencial. Não que isso faça muita diferença (apenas haverá um delay na epidemia), especialmente para o hemisfério sul, onde a temporada de gripe sazonal está apenas começando. Uma propagação levemente supercrítica também implica em grande variabilidade no número de casos ao longo do tempo (flutuações críticas), o que também se está observando.

O mesmo artigo chama a atenção para o fato de que, conforme o vírus vai se adaptando à população humana, sua transmissibilidade vai aumentando. Eu propus ao Mauro Copelli adaptarmos o nosso modelo de propagação de atividade em meios excitáveis para o caso onde aprobabilidade de transmissão p_lambda depende do sítio, e a cada contágio sofre mutações. Parece meio óbvio que nesse caso o p_lambda médio deve aumentar com o tempo, mas seria interessante verificar a sua dinâmica. 

Dia 11 próximo eu estarei viajando para o XXXII Encontro de Física da Matéria Condensada, em Lindóia. Quase 2.000 físicos aglomerados em salas pequenas, muitos visitantes estrangeiros e gente gripada (de gripe normal, espero!). Mas... imagine que daqui a uma semana a gripe suína já estivesse se espalhando aqui no Brasil. Qual a atitude racional a tomar? Ir para o congresso e ficar rezando para que nada aconteça, como recomendariam alguns amigos blogueiros? 

Ou seja, ando postando bastante sobre a gripe suína por causa da minha curiosidade científica (acho que posso iniciar uma nova linha de pesquisa usando os métodos que já estou acostumado) e meu "medo científico", ou seja, se eu pegar essa gripe em maio vai ficar difícil escrever minha tese e preparar a papelada para a livre-docência (o prazo termina em 30 de maio)...

PS: Eu me recuso a mudar o nome da gripe suína para gripe A(H1N1) apenas por causa do lobby dos pecuaristas. Os porcos são os hospedeiros desse novo vírus sim, o grosso do material genético é de vírus suíno, e as fazendas de porcos são uma condição necessária (e talvez suficiente, ver artigo do Reinaldo Lopes no Visões da Vida do G1)  para a geração recorrente desse tipo de pandemia. Acho que os vegetarianos, os budistas, os judeus, os sanitaristas, os epidemiologistas e as pessoas dem informadas deveriam começar uma campanha para acabar com o consumo de carne de porco a nível mundial. Afinal, essa campanha deve ser mais fácil do que combater o cigarro: fumaça de tabaco afeta quem está perto, pandemias afetam todo mundo, é uma questão de bem comum. Lembram daquela história de que o seu direito (de comer carne) termina quando o meu direito (à vida) começa? Que tal substituir a carne de porco por avestruz (esse descendente dos dinossauros que oprimiam os mamíferos - vingança!), peixes domésticos e camarões? 

Do G1:

Dobra o número de casos suspeitos de gripe suína no Brasil

Em 24 horas, número de suspeitos sobe de 7 para 14.

Números foram divulgados pelo ministério neste sábado.

A representação da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil informou que o pais deve receber em breve kits de diagnóstico da doença. Os kits permitiriam detectar a atual cepa (linhagem) do vírus da gripe de dois a três dias, contra até 15 dias dos exames realizados atualmente.

Ou seja, dado que ainda não decorreram 15 dias desde os primeiros casos suspeitos no Brasil, o fato de que não existem casos confirmados é simplesmente devido a esse problema técnico de diagnóstico, nada tem a ver com o número real de casos. Por outro lado, com 14 casos suspeitos

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