Ruth de Aquino já é a segunda colocada em comentários na Revista Época

Um dos argumentos contra simples contagem de citações para avaliar a qualidade de um paper é que ele pode estar recebendo citacões simplesmente para ser criticado, pois apresentou resultados errados. Parece que isso está acontecendo com a coluna de Ruth de Aquino, que agora às 19:20 de 24/03/2009 já é a segunda mais citada, perdendo apenas para "Estou grávida de minha namorada". É claro que 98% dos comentários foram críticas. E ela ainda não deu satisfação nenhuma aos leitores!
Uma das coisas que mais me impressionaram em minha carreira foi o caso de um artigo de Bernard Derrida (físico famoso primo daquele filósofo meia boca) e Elisabeth Gardner sobre redes neurais que continha um calculo de uma linha de estabilidade (mostrada em uma figura). Essa figura e cálculo eram citados por todo mundo, apareceu até em livro. Até que um dia um orientador pediu a um estudante de doutorado que refizesse a conta, e o menino não conseguiu. Na verdade, mostrou que a conta e a figura daquele paper famosíssimo estavam erradas!
Eles publicaram um comment no Physical Review Letters, falando disso e mostrando os novos resultados, a nova linha de estabilidade. Nessa revista, os autores cujo paper recebeu o comment tem direito a uma réplica (em geral eles usam essa réplica para contestar, escapar, dizer que não foi bem aquilo que disseram, desviar a atenção, encher linguiça etc). Nessa épca Gardner já tinha falecido (morreu jovem, de cancer), mas Derrida respondeu. Foi a menor réplica que eu já vi publicada no PRL e dizia mais ou menos assim: "Os autores do comment estão corretos, parabéns!"
E depois chamam os físicos de arrogantes! Arrogante é editora chefe de sucursal do Rio de Janeiro...
Vou passar aqui uma pauta para Ruth: se ela quiser criticar de verdade a inutilidade da produção científica, ela deveria comentar com os leitores sobre a porcentagem de papers que nunca recebem citação alguma. Eu não sei o número exato, mas deve estar por volta de 10% ou mais.
Entretanto, cuidado. Falta de citações também não é demérito, pois podem ocorrer devido a vários fatores:
1. Era um trabalho novo mas preliminar, e uma versão mais completa foi publicada posteriormente. Cita-se a versão mais completa.
2. O trabalho é bom, mas é publicado em uma época em que os pesquisadores da área estão migrando para outros assuntos (os físicos, em especial, sempre estão atrá de novidades, e como os problemas mais dificeis são resolvidos com muito esforço e tempo, um paper tour de force mas tgardio pode não receber a atenção devida.
3. O trabalho é bom, mas foi publicado em uma revista com baixo status. As pessoas sempre tendem a citar artigos publicados em revistas com status (Impact Factor), principalmente porque o espaço ou número de citações permitido nas revistas é finito.
4. O trabalho é tão original que demora um certo tempo para a comunidade absorvê-lo, e as vezes ele passa despercebido por anos. São os papers chamados de "Belas Adormecidas", que só despertam muitos anos depois.
5. O trabalho é bom, mas um outro na mesma linha é melhor. Escolhe-se o segundo para citar.
6. O trabalho é bom, mas a rede social de amigos do cientista é pequena (ele é timido, não aparece em congressos, não divulga etc). Acaba ficando sem citações.
7. Etc... etc.
Eu tenho vários trabalhos que não receberam nenhuma citação (OK, compensados pelas 400 citações que já recebi pelos outros!). Mas eu me orgulho deles, em todos acredito existirem idéias originais, mas fatores como os descritos acima os deixaram com citação zero. E como eu também não costumo me autocitar muito, isto contribui para o fato.
Me orgulho também dos meus paper que nunca foram publicados: em geral eles são os mais originais e mais interessantes de um ponto de vista amplo, mais filosófico, não restrito a uma especialidade dentro da Física Estatística. É por isso que eu os divulgo aqui no blog...

Comentários

Carlos Hotta disse…
mais posts

http://cienciaeducacaoemais.blogspot.com/2009/03/o-besteirol-de-ruth-de-aquino.html

http://scienceblogs.com.br/dimensional/2009/03/033.php

http://scienceblogs.com.br/geofagos/2009/03/e_muito_facil_ser_um_jornalist.php

http://guilhermedecarvalho.blogspot.com/2009/03/o-besteirol-na-ciencia-o-cientificismo.html
luisbr disse…
Acho que a Ruth não vai conseguir.
Ela não deve saber o que é (na verdade) um artigo científico e como funciona o processo de citações.
Anônimo disse…
é.. concordo com o que o Luis br disse... ela com certeza nem bolsita do CNPq foi.... currículo lattes? hahaha nem passa perto ... afff vendo uma coisa destas ... imagino até que deve ser muito fácil ser jornalista mesmo hahahahahaha

Na boa.. só lamento para ela... e em tempos de crise, seria uma boa uma recontratação de jornalistas com referencia ... nesta "vaga" dela rs

Abraços e parabéns pelo post!

PS: fiquei curiosa em conhecer seus artigos mais profundamente, afinal o número 400 me interessou e muito rs :) Vou procurar pelo google da voda hehe :D
Unknown disse…
Pode procurar no Latter ou no google.
Acho que fiquei chateado com a historia toda porque meu artigo sobre a evolucao da culinaria (que na verdade é sobre algoritimos de evolucao cultural e leis de potencia em redes complexas) poderia estar retratado no artigo da Ruth como Besteirol. Foi comentado na Nature News, na New Scientist, no Caderno Mais e até em jornal do Irã! Sempre com distorcoes, é claro, mas se as pessoas nao leem a introdução (que sempre é legivel) do artigo cientifico, nunca ficam sabendo das verdadeiras moticações e importancia dos resultados...

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