Em defesa de Ruth de Aquino


Ainda com teclado sem acentos...

O Cientista da Religiao e pastor Guilherme de Carvalho colocou um 'otimo post em defesa de Ruth de Aquino, ponderado e advertindo os cientistas e blogueiros de ciencia contra o perigo de cair no Cientificismo (transformar Ciencia em Ideologia) e corporativismo cientifico.

De quebra, agiu como Jesus, deu a outra face e andou a segunda milha, dado que Ruth pretensamente eh ateia. Eu sempre disse que os teologos esclarecidos e progressistas e os ateus moderados deveriam se unir contra a mare' religiosa antimodernista, em vez de aceitar as provocacoes de Dawkins. Mas nunca me deram atencao, e aqueles que deveriam estar do mesmo lado da barricada (ou seja, aqueles que aceitam uma sociedade plural secular) agora estao separados e em conflito.

Guilherme Vilela Ribeiro de Carvalho, pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte, é obreiro de L'Abri no Brasil e presidente da Associação Kuyper para Estudos Transdisciplinares. É também organizador e autor de Cosmovisão Cristã e Transformação e membro da associação Christians in Science (CiS). http://guilhermedecarvalho.blogspot.com/

Comentários

Dedalus disse…
Caro Osame,

Um passarinho me contou que você tem uma sólida formação cristã, o que parece fazer a balança da sua opinião pender para um lado e não para o outro. Sendo ou não esse o caso, tudo bem, já que ninguém é mesmo imparcial. Mas a questão, para mim, é um bocado mais ampla: dá para ser religioso e moderno ao mesmo tempo? A religião não é antimodernista por natureza? E outra coisa, que é quase a mesma: a ciência não tem embutida em sua estrutura uma ideologia?

Por fim, você já assistiu um episódio de South Park em que Richard Dawkins aparece? Tem a ver com o que você escreveu (http://en.wikipedia.org/wiki/Go_God_Go)...

Um abraço!
Unknown disse…
Oi Dedalus,

Teologia Modernista e Teologia Liberal (nao confundir com Teologia da Libertação) é um termo técnico e tem sim a ver com um alinhamento com o Modernismo e rejeição do reacionarismo Romantico.

De uma olhada:

http://www.modchurchunion.org/Issues/Theology/ModernistTheology.htm

http://en.wikipedia.org/wiki/Liberal_theology
Dedalus disse…
Caro Osame,

Obrigado pela indicação dos links. Mas o que eu imagino - e posso estar profundamente errado aqui - é que a modernidade começa historicamente lá atrás, com o Iluminismo, e tem como 'doutrina' central o uso da razão como principal guia, enquanto a religião, de forma geral, prega (e sempre pregou e pregará) o uso da fé em primeiro lugar. De onde estou (e isso pode ser apenas fruto da minha ignorância) fé e razão são coisas diferentes, no máximo, complementares. Tentar conciliá-las me parece um pouco paradoxal (mas não digo que seja impossível - eu espero que não seja...).

Um abraço!
Este comentário foi removido pelo autor.
Caros,

estou entre aqueles otimistas para quem há uma unidade interna entre as diferentes dimensões do que chamamos de humano.

Isso não significa que ciência e religião vão sempre concordar, ou tenham sempre que concordar, mas que fé e racionalidade, enquanto aspectos estruturais do fenômeno humano podem e devem concordar.

Mas veja bem: ciência não é o mesmo que racionalidade, nem fé é o mesmo que religião! Infelizmente essas confusões acontecem por aí. Com certeza para alguns jornalistas prótons e neutrons são a mesma coisa :-D

Agora um problema histórico: a modernidade do ponto de vista filosófico é posterior à revolução científica, que aconteceu num contexto ainda de transição e profundamente religioso. Meus conhecimentos de história da ciência me dizem que a oposição frontal da religião a certos aspectos da modernidade não tem nada a ver com as suas relações com ciência :-D
Osame Kinouchi disse…
Guilherme, vc está correto. Acho que a reação religiosa anticientífica (de religiosos tradicionalistas, nao de todos!) aparece simultaneamente com o Romantismo reacionário de Rousseau, Evola, etc, ou seja, com os movimentos culturais de reação politica contra o Iluminismo e retorno ao Tradicionalismo (politico e religioso). Isso ocorre em ondas, existe um Romantismo no inicio do século XIX, depois um periodo de popularidade cientifica (representado por Jules Verne e o "socialismo científico" de Marx/Engels). E entao outro periodo Romantico inciado pelo espiritismo ingles e o clima fin de siecle (Nietzsche sendo seu expoente maior).

No começo do século XX de novo um periodo liberal nos costumes e na religiao, periodo que se abala com a decepção da I Guerra Mundial mas sobrevive até a Republica de Weimar. Um novo Romantismo idealista e espiritualista ressurge (que degenerou mais tarde no nazi-facismo romantico e no Integralismo brasileiro).

Finalmente, um novo periodo secularista com a vitoria dos americanos e russos na decada de 50 seguido pelo despertar mistico (movimento carismatico, New Age, neopentecostalismo etc) e a esquerda romantica da decada de 60-70.

Finalmente parece ocorrer um acomodamento (neopentecostalismo neoliberal neocalvinista - quantos neos! --- com teologia da prosperidade e New Age voltada para auto-ajuda), em paralelo com o pos-modernismo neo-romantico.
Esse periodo relativista, influenciado pela Escola de Frankfurt e seus descendentes, acaba por fundamentar o relativismo cultural de João Paulo II e Ratzsinger (é assim que se escreve?): nada de querer adaptar a Igreja à modernidade, mas sim a modernidade à Igreja.

Entramos no século XXI e em paralelo com o fundamentalismo religioso e étnico, aparece uma (pequena) contra-reaçao neo-iluminista (neo-ateismo) e uma aceitação maior do valor do intelecto sobre a força - os nerds se tornam geeks e dominam o cenario.

É claro que uma nova reação romantica virá cedo ou tarde. Esses ciclos geracionais tem se repetido desde a idade média, com variantes, fusoes, sincretismos e mudanças de posicao politica. É um pendulo (caótico) na historia cultural...

Ou seja, modernidade e tradicionalismo se alternam, não existe progressão mas oscilação pendular ou talvez uma ascenção em espiral...

E nisso tudo, ficamos gastando nossas vidas, nossas horas, em guerras culturais idiotas (idiotas porque são guerras de surdos).
Cara, interessante vc ter observado esse movimento pendular. Quem discute ciência e religião tem que ter consciência histórica mesmo, senão fica repetindo os erros.

Curioso isso, pois estava planejando um breve post sobre esse dualismo de ciência e liberdade humana nos últimos séculos. Acho mesmo que o primeiro passo para entender o conflito atual envolvendo a ciência é entender esse dualismo.

bração
Dedalus disse…
Caro Guilherme,

Dá para ter ciência sem racionalidade e religião sem fé? Eu acho que até dá, mas o que sai assim é muito ruim... Quanto ao próton e o nêutron, eles são mais parecidos do
que imaginam as pessoas.

Caro Osame,

A história (mesmo a cotidiana) é feita de ações e reações, e estudá-la é ver uma guerra, na qual muitas vezes (se não em todas) somos instados a participar. Para mim, o melhor modo de tomar parte é por meio da diplomacia, e isso consiste em usar até mesmo a linguagem dos surdos.

Um abraço!
Oi Dedalus!

Sim vc está certo, mas a coisa é um pouco mais sutil. Há um elemento de racionalidade na religião (junto com a fé) e um elemento de fé na ciência (junto com a racionalidade).

Se as duas coisas fossem tão diferentes, não entrariam em conflito, por sinal. Toda diferenciação envolve o compartilhamento de um tipo de propriedade. E isso vale para física, para as ciências sociais, e para qualquer outra coisa.

Quanto a prótons e nêutrons: parecidos, mas ainda assim diferentes.

Mas sem dúvida parecidos de um jeito ou de outro. Senão, nem seriam diferentes :-D

bração!

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