Ciência da Fé


O Portal G1 mantém uma seção-blog interessante chamada Ciência da Fé, onde discute-se novas descobertas científicas que vêm questionar a visão tradicional de diversas religiões, em particular as religiões bíblicas. Conselho: antes de ler os comentários dos posts, tome um Engov a fim de aguentar o baixo nível intelectual dos leitores, tanto religiosos como arreligiosos.

Estou pensando em entrar de forma mais profissional nesse debate dos neo-ateístas (liberais) contra os evangélicos neocons (direita)  e neo pentecostais (neoliberais). Um debate curioso dado que tanto os neo-ateus como evangélicos brasileiros são fanáticos do mercado --- e o mercado é o sistema econômico mais favorável à liberdade e proliferação religiosa, pois afinal as igrejas neopentecostais são regidas como empresas (as igrejas tradicionais são mais parecidas com ONGs). Mas alguém aí é contra empresas e empreendedorismo?

Já os ateus socialistas, que combatiam a religião usando legislação de Estado, parece que desapareceram de vista. E os católicos e evangélicos de esquerda, que não são poucos, infelizmente são ignorados e desprezados por todos... Bom, na verdade, eles ficaram abalados pelo fracasso do Sandinismo na Nicarágua, pela queda do Muro e pelo movimento carismático na década de 80, e foram finalmente massacrados pelo papa neocon e os neoliberais avivados nos últimos 15 anos...

Mas em vez de ficar colocando aqui achismos e preconceitos, vou fazer um estudo de primeira mão tentando entender as razões do sucesso de mercado das diversas igrejas. Acho que não dá mais pra ficar falando generalidades, é preciso saber o público que atendem, que necessidades satisfazem, e porque as religiões tradicionais, seja a Católica, sejam os protestantes históricos, os evangélicos e mesmo pentecostais tradicionais, e mesmo o Espiritismo Kardecista e os cultos afro-brasileiros não conseguem dar conta do recado. Até mesmo a New Age anda meio desunida e capenga!

Uma coisa que me impressionou muito ocorreu esta semana, quando entrei com minha namorada em uma loja New Age - esotérica e descobrimos que na verdade a dona era evangélica neopentecostal e o marido anglicano. Ela nos contou que embora tenha enfrentado críticas na Igreja, continua a manter a loja do mesmo jeito porque encara isso como seu ministério pessoal, ou seja, acha que as pessoas que vão comprar incenso, talismãs, cristais, decoração indiana etc, são pessoas psicologicamente necessitadas que podem ser aconselhadas e evangelizadas por ela. 

Quando ela falou isso, eu pensei duas coisas:

1. Meu Deus, os memes neopentecostais são tão mutáveis como o HIV.
2. Coitado do movimento New Age... está sendo invadido sem saber.

Um exemplo de notícia do Portal G1:


"Em caso de Arrebatamento, este veículo ficará desgovernado." Adesivos com esses dizeres podem ser vistos nos carros de evangélicos do mundo inteiro, inclusive no Brasil. A ideia é que, no fim dos tempos, os cristãos realmente fervorosos serão arrebatados (daí o nome) de corpo e alma para o céu, enquanto uma série de catástrofes naturais e políticas afetarão a Terra durante sete anos. Ao fim desse período, Jesus voltará como conquistador ao nosso planeta, derrotando o Anticristo numa grande batalha em Israel. Esse cenário épico é inspirado em várias passagens da Bíblia -- mas é preciso forçar consideravelmente a interpretação do texto sagrado para chegar a ele, de acordo com especialistas.

Em essência, a crença no Arrebatamento é uma colagem de trechos do Novo e do Antigo Testamento, cada um deles com perspectivas diferentes sobre o futuro da humanidade e o retorno glorioso de Jesus Cristo à Terra. "É uma tentativa de criar um mapa dos eventos futuros com base, por exemplo, no Apocalipse, no capítulo 13 do Evangelho de Marcos e na Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses", diz Paulo Augusto Nogueira, professor da pós-graduação em ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo.

 

De acordo com o americano Thomas Sheehan, estudioso do cristianismo primitivo e professor da Universidade Stanford, a ideia do Arrebatamento é relativamente recente. "Ela foi criada pela primeira vez no começo do século XIX, graças ao trabalho do pregador evangélico John Nelson Darby, e foi se tornando cada vez mais codificada ao longo do século XX, até chegarmos aos cenários detalhados que cristãos conservadores de hoje defendem", diz Sheehan. As chamadas igrejas cristãs históricas, como a Igreja Católica, a Igreja Anglicana e as várias igrejas luteranas, não adotam as mesmas crenças. 

Comentários

Dedalus disse…
Caro Osame,

Por algum motivo técnico meu comentário anterior não foi aceito e sumiu num limbo qualquer. Volto a ele então: eu moro na periferia e quem bate à minha porta ou deixa material na minha caixa de correio não é ninguém das religiões tradicionais... Ou seja, acho que os neo-pentecostais sabem vender seu produto, de uma forma muito mais agressiva que os outros religiosos. Isso me lembra um pouco o que aconteceu com o cristianismo: como ele tomou o lugar das outras religiões tradicionais?

Um abraço!
Osame Kinouchi disse…
Pelo que sei, foram dois fatores:

1. Público do cristianismo primitivo era composto por mulheres, escravos, escravos libertos e plebeus (baixa classe média), com alguma classe média alta posteriormente. Demograficamente, era uma população maior que o publico de outras religioes. Por exemplo, o culto a Mitra era mais disseminado entre os militares e o panteão tradicional estava mais ligado à aristocracia. Acho que o grande concorrente do cristianismo nos primeiros 300 anos foi o culto a Isis-Ishtar (Deusa-Mãe, Mãe do Céu ou Mãe de Deus, representada por uma mulher amamentando um bebe), mas isso foi absorvido posteriormete em um movimento sincretico, gerando o culto à Maria.

2. Segundo historiadores, outro fator relevante foi que os cristão começaram a organizar um tipo de assistencia social (hospitais, escolas, albergues etc), coisa que não havia no império Romano. Isso atraiu muita gente. Lembremos, o imperio Romano podia ser muito rico e poderoso, mas a riqueza e as terras estavam concentradas nas mãos dos patrícios. Roma não era um welfare state...
Dedalus disse…
Caro Osame,

Pois eu acho que a sua explicação do crescimento do cristianismo se aplica perfeitamente bem ao crescimento dos neo-pentecostais (vale também para o McDonalds): tudo se resume a atingir o público-alvo adequado. Aliás, você sabe onde estão as maiores concentrações (percentualmente falando) de neo-pentecostais, segundo o IBGE?

Um abraço!
Osame Kinouchi disse…
Em principio, o primeiro público era a classe C e D mas eu to achando que eles já tao permeando toda a sociedade, em especial a pequeno burguesia que gosta da mensagem calvinista de empreendedorismo (com a benção divina). Por exemplo, a Igreja Renascer me parece ser de classe média e alta.

Mas acho que os dados do IBGE devem estar bastante desatualizados...
Anônimo disse…
Coitada da Fé enquanto existirem as Igrejas.

Knx.
Osame Kinouchi disse…
Acho que o buraco é mais embaixo...
a questão do carisma e poder weberiano.

Coitada da Politica enquanto existirem partidos.

Coitado do futebol enquanto existirem clubes e a FIFA.

Coitada da arte enquanto existirem museus e galerias.

Coitada da ciência enquanto existirem universidades e laboratórios (militares) de pesquisa.

Coitada da ação social e do ambientalismo enquanto existirem ONGs corruptas.

Ad Infinitum...

Postagens mais visitadas deste blog

O SEMCIÊNCIA mudou de casa

Aborto: um passo por vez

Wormholes