Novos métodos estatísticos para gripe suína




Eu tenho reclamado nestes posts que a letalidade de 0,5% para gripe suína é uma espécie de lenda urbana, ou meme que tem se propagado sem ter fundamento estatístico. Um novo estudo no BMJ confirma isso.




A informação de que a gripe sazonal também tem letalidade de 0,5% é absurda. Tomando uma média de 500.000 mortes anuais, o número de casos clínicos deveria ser 500.000/0,005 = 100 milhões, o que é muito pouco! O número estimado é 15% da população mundial, ou seja, cerca de 1 bilhão de casos. Assim, tem um erro de fator 10 naquela taxa: o melhor número seria 0,05% (um óbito por 2.000 casos) ou menos, como corretamente informa a Wikipédia.




O meu modelo exponencial, que deveria ser razoável para o início da epidemia, diz que o número atual de casos no Brasil deve estar por volta de 5.000 hoje (um pouco acima do número de casos confirmados mais o número de casos suspeitos, o que faz sentido). Com 8 mortes até agora, teríamos uma taxa de letalidade de 0,16%, ou seja, três vezes maior que a gripe sazonal (mas é claro que não devemos fazer estatística com poucos casos assim, inclusive porque não estamos contando os casos em estado gravíssimo). Isso é consistente com o último estudo publicado na Nature, de que o novo vírus atinge mais profundamente os pulmões.




Dado que cada país tem as suas especificidades (a taxa de mortalidade depende do acesso a tratamento médico e estado geral de saúde da população), usar dados médios cuja principal componente se refere aos EUA e outros países desenvolvidos é enganoso. Nosso caso é mais similar ao da Argentina.




Ou seja, afirmar como é feito nas notas do Ministério da Saúde e no noticiário jornalístico, de que a letalidade é a mesma da gripe sazonal é no mínimo temerário, ou mesmo enganoso. Uma espécie de lenda urbana confortadora.




Agora, o estudo britânico aponta que existem mortes por infarto associadas à gripe que não estão sendo computadas. Não acredito que nossas secretarias de saúde estejam a par disso...




14/07/2009 - 22h59





da Folha Online



As estatísticas sobre o número de casos e de óbitos ligados à gripe suína não são confiáveis, especialmente porque a maior parte das pessoas contaminadas não são computadas, revela um estudo publicado nesta quarta-feira pelo British Medical Journal, que destaca a importância de se dispor de números confiáveis sobre o vírus, que poderá sofrer mutação e ampliar sua virulência e contágio.
Segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), divulgado no último dia 6, já foram registrados 94.512 casos de gripe A (H1N1), com 429 óbitos.
O índice de mortalidade é de 0,5%, apenas um pouco acima do índice da gripe comum, semelhante à mortalidade causada pela gripe comum, que mata entre 250 mil e 500 mil pessoas no mundo todos os anos.
Mas especialistas do Imperial College de Londres advertem para "interpretações simplistas destas cifras". A coordenadora do estudo, Tini Garske, disse que, diferentemente da gripe comum, a nova doença tem atingido com gravidade alguns jovens e crianças previamente saudáveis.
Um dos problemas é que não entram nas estatísticas as pessoas contaminadas que não apresentam sintomas ou que têm apenas sintomas leves.
Os pesquisadores apontam também para as grandes disparidades nos índices de mortes em cada país. No México, por exemplo, morreram 119 das 10.292 pessoas diagnosticadas com gripe suína, uma taxa duas vezes superior à do Canadá, Estados Unidos e Europa.
A explicação poderia estar na maior virulência do vírus que circula no México, mas também na possibilidade de o número real de contaminados ser muito superior ao apurado pelas autoridades mexicanas. O estudo adverte ainda para um possível aumento de infartos e paradas cardíacas ligados à nova gripe, que não apareceriam nas estatísticas.
"Predizer com exatidão a gravidade desta pandemia de gripe suína é uma tarefa muito complicada, e nossa pesquisa mostra que isso só poderá ser alcançado se os dados forem recolhidos de acordo com protocolos de estudo bem concebidos e analisados de uma forma mais sofisticada do que está frequentemente sendo realizado no momento" disse Garke.
"Se não conseguirmos obter uma previsão precisa de gravidade, não estaremos fornecendo aos planejadores de saúde, médicos e enfermeiros as informações de que eles precisam para garantir que estão mais bem preparados para lutar contra a pandemia quando nos aproximamos da estação de gripe neste outono [no hemisfério norte]", afirmou a especialista.
A equipe de Garske desenvolveu formas de melhorar as estimativas, incluindo a utilização de algumas cidades como amostras.
Analisar famílias também podem ajudar a dar uma idéia de como a gripe se propaga. Se um membro doente da família infecta um outro membro da família, ou dois, ou três, esse número pode ser usado para estimar a taxa de infecção nos locais em que casos não sejam diagnosticados e registrados de forma adequada, disse a especialista.
"Você não precisa saber sobre todas as pessoas, mas precisa de algumas subpopulações", afirmou.

Comentários

Osame,até o momento temos confirmadas 4 mortes relacionadas ao vírus Influenza A (H1N1). Felizmente, 99,6% dos casos de contaminação evoluem para a cura. O Ministério da Saúde atua com transparência nas informações fornecidas à população, pois, compreendemos a importância de uma ação conjunta contra doença.
Por isso, orientamos a todos que procurem um posto de saúde ou médico de confiança, logo surja sintoma da gripe, para ser feito dignóstico e ministrado tratamento, de acordo com o quadro apresentado.

Postagens mais visitadas deste blog

O SEMCIÊNCIA mudou de casa

Aborto: um passo por vez

Oscilações e ruído nos dendritos?