Tucanês na gripe suína


Hélio Schwartsman publica uma nota na Folha sobre o "Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza". Fico imaginando que talvez a minha campanha "Morte ao tucanês na gripe suína" tenha chamado a atenção para esse documento (Hélio é leitor da Roda de Ciência), mas quem poderá saber?

19/07/2009 - 13h43

Pandemia de gripe pode durar dois meses e afetar até 67 milhões

Os cenários estão na terceira versão do documento "Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza", publicado em abril de 2006 pelo Ministério da Saúde, aponta reportagem de Hélio Schwartsman, publicada neste domingo pela Folha (apenas para assinantes).

Segundo o estudo, epidemias de influenza em grandes centros urbanos se caracterizam pelo início abrupto, atingem seu pico em duas ou três semanas e se prolongam até completar cinco a oito semanas. Isso significa que os números ainda vão piorar antes de melhorar.

A pandemia de gripe provocada pela nova variante do vírus A H1N1 poderá atingir entre 35 milhões e 67 milhões de brasileiros ao longo das próximas cinco a oito semanas. De 3 milhões a 16 milhões desenvolverão algum tipo de complicação a exigir tratamento médico e entre 205 mil e 4,4 milhões precisarão ser hospitalizados.


É interessante analisar a resposta do Ministério da Saúde:

Em nota, o Ministério da Saúde esclareceu que "não há modelos matemáticos disponíveis no mundo para se realizar uma projeção sobre o número de pessoas que serão afetadas pela Influenza A (H1N1). Todos os cálculos contidos no Plano Brasileiro de Preparação para uma Pandemia de Influenza são referentes a uma possível pandemia da Gripe Aviária, causado pelo vírus (H5N1), que não ocorreu, e outras pandemias. Os parâmetros utilizados não são validos para esta pandemia, que se apresenta com taxa de letalidade abaixo do que foi estimado para a influenza aviária. A única publicação sobre o tema da Gripe A (H1N1) foi feita, no inicio da pandemia, em uma pequena localidade isolada de um estado do México, com um pouco mais de 600 casos. Ou seja, não pode ser aplicado para a atual fase cenário".

Para o ministério, portanto, não é possível criar uma projeção utilizando os estudo. "Veja que, passados mais de 80 dias desde o alerta a Organização Mundial de Saúde, não se registrou mais do que 120 mil casos em todos os 122 países afetados --oito com transmissão sustentada da doença--, até a última quarta-feira. O influenza A (H1N1) é um vírus novo e seu comportamento está sendo acompanhado, não havendo evidencias científicas acumuladas suficientes até o presente momento. A ação das autoridades mundiais, nesse momento, é dirigida prioritariamente para evitar a ocorrência de casos grave e mortes pela doença."

1. "Não há modelos matemáticos disponíveis no mundo para se realizar uma projeção sobre o número de pessoas que serão afetadas pela Influenza A (H1N1)" ( ) Verdadeiro (X) Falso

2. "Os parâmetros utilizados não são validos para esta pandemia, que se apresenta com taxa de letalidade abaixo do que foi estimado para a influenza aviária". ( ) Verdadeiro (X) Falso

O modelo é um modelo estático simplezinho e genérico. Foram examinados vários cenários (de otimista a pessimista), variando os parâmetros por uma ordem de magnitude. Certamente o cenário otimista é um limite inferior para esta epidemia. Nas simulações contidas no plano, não foi usada uma taxa de letalidade nem foram feitas previsões de óbitos. A taxa de transmissão usada nos cenários provavelmente está subestimada (ver comentário da OMS abaixo).

3. "Veja que, passados mais de 80 dias desde o alerta a Organização Mundial de Saúde, não se registrou mais do que 120 mil casos em todos os 122 países afetados --oito com transmissão sustentada da doença--, até a última quarta-feira." ( ) Verdadeiro (X) Falso

Acho que eu não preciso explicar que os número da OMS não refletem os casos atuais, mas apenas as confirmações por laboratório (uma diferença por fator 50 ou 100?). Na mesma notícia da Folha:

Anteontem (17), a OMS (Organização Mundial de Saúde) desistiu de contar os casos individuais de gripe suína e não irá mais emitir boletins globais sobre o número de doentes. Segundo a organização, manter a conta de infectados é muito dispendioso, pois o vírus se espalha rapidamente.

"Nas pandemias anteriores, os vírus gripais precisaram de mais de seis meses para se propagar tanto como aconteceu com o novo vírus A [H1N1] em menos de seis semanas", afirmou em um comunicado, a organização com sede em Genebra.


O resto da nota contém apenas frases não informativas que distraem a atenção.

Eu ainda concordo com o artigo do John Barry publicado na revista Nature, que esta estratégia de tranquilização é contraproducente por minar a confiança do público nos comunicados das autoridades:

Although a false alarm can be damaging, it is not nearly as damaging as silence — the type of silence that makes people believe the truth is being withheld. That is how trust disintegrates and how rumours — passed in the streets in 1918, today passed over Internet blogs — take hold and grow.

I don’t much care for the term ‘risk communication’. It implies that the truth is being managed. The truth should not be managed, it should be told. Only by knowing the truth can imaginary horrors be transformed into concrete realities. And only then can people start to deal with those realities, and do so without panic.

John M. Barry is a Distinguished Scholar at the Center for Bioenvironmental Research of Tulane and Xavier Universities, New Orleans, Louisiana 70112, USA. He is author of The Great Influenza: The Epic Story of the Deadliest Plague In History.

Comentários

Muito bom o texto!
Abraço

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