Dawkins, uma desilusão na FLIP



Em tempo, um post interessante do Mauro (blog Você que é Biólogo): Dawkins uma Desilusão (na FLIP). Apena um reparo sobre a pergunta que ele fez ao Dawkins, sobre se a propagação dos mais aptos não vale para os seres humanos, dados que a elite tem poucos filhos (por exemplo, os genes egoístas de Dawkins não tiveram descendentes).

Mauro, você que é biólogo devia saber que "as pessoas em posições hierárquicas na sociedade" não são os bem adaptados. Tais pessoas têm uma maior probabilidade de apresentar várias patologias psiquiátricas tais como desordem de personalidade obsessiva-compulsiva, desordem de personalidade narcisística e mesmo psicopatia. Isso não é muito compatível com a atividade de criar filhos.

O bisavô de meus filhos é um homem negro de mais de 90 anos que ainda descasca o própio arroz num pilão em seu sítio. Casou duas vezes, teve 24 filhos e um número incontável de netos. Por todos os parâmetros biológicos, é um ser humano de altíssimo fitness. A evolução continua a favorecer os mais aptos...

O meme religioso "crescei e multiplicai-vos", favorece os genes de seus portadores. Muçulmanos, mórmons e o pessoal do Bible belt tem alto fitness biológico (número de descendentes férteis). Intelectuais e cientistas, especialmente os europeus, ocupados demais para terem filhos tem baixo fitness biológico. É simples assim...

E não adianta criticar os religiosos pelo fato da superpopulação ser ecologicamente insustentável. Mais cedo ou mais tarde, todos os grupos sociais reduzirão sua taxa de natalidade, mas os grupos que fizerem isso por último herdarão a Terra. Portanto, a estratégia deles é sumamente racional e coerente, mesmo se feita de modo inconsciente. Talvez possuam genes mais egoístas e espertos...

Comentários

Dedalus disse…
Caro Osame,

Comentário quase perfeito esse seu (adaptado acho que significa, biologicamente falando, capaz de se reproduzir: mais adaptado, maior sucesso reprodutivo...), mas devo fazer um reparo: ao invés de "os grupos que fizerem isso por último herdarão a Terra" eu acho que mais correto seria "os grupos que fizerem isso por último herdarão o que sobrar da Terra".

Um abraço!
Mauro Rebelo disse…
Amigos, é necessário mais que um comentário para discutir essa questão. Nas sociedades humanas antigas, os reis e nobres tinham direitos de exclusividade sobre muitas mulheres, como acontece em grande parte das populações animais. Isso garantia a eles maior fecundidade. Mesmo Darwin falou sobre a 'seleção sexual'. Se adaptar para sobreviver serve de pouco se você não reproduzir. Portanto, o que importa é a adaptação para a reprodução, e status e poder sempre influenciaram nisso. Menos na atualidade.
Uma reportagem grande na Scientific American de uns meses atrás (número especial sobre Darwin) discute amplamente a questão.

PS: Osame, você como físico deveria saber que a história do sucesso reprodutivo do seu avô é um clássico exemplo de seleção de observação. ;-)
Osame Kinouchi disse…
Hum, é verdade! Seleção de observação (sobre o avô da minha ex-mulher).

Todos nós somos descendentes dos bem sucedidos em deixar filhos.

O meu comentário se referia a sociedades monogamicas: Desde Galton se sabe que a familias nobres da Inglaterra não tem sucesso reprodutivo e a taxa de eliminação de sobrenomes é alta (ao contrário dos Silva).

Talvez a monogamia seja um pre-requisito para a democracia...
gerardo furtado disse…
oi, coloquei um comentário no blog original, mas vi o post de vocês e gostaria de comentá-lo aqui também:

primeiramente, evolução é uma alteração nas frequências gênicas em uma população. a seleção é um dos processos responsáveis por essas alterações, mas não é condição sine qua non, nem o único. Assim, pode haver evolução sem seleção e, o mais curioso e raro, seleção sem evolução. Logo, a discussão sobre se os humanos evoluem ou não deve ser baseada em alterações no pool gênico, e não apenas em se há seleção ou não. evolução e seleção não são sinônimos.
em segundo lugar, creio que é perigoso imbuir o conceito de fitness (ajustamento) com valoração moral. o ajustamento é apenas a taxa reprodutiva média per capita de uma entidade biológica. assim, se em duas entidades biológicas X e Y a taxa reprodutiva de X é maior que a de Y, seu ajustamento (fitness) é maior. Então, de acordo com o post, se as classes mais altas da sociedade estão com uma taxa reprodutiva menor que as classes mais baixas, então as classes mais baixas teriam um maior fitness, apenas isso. não há nenhum problema seletivo aqui. Uma questão adicional, porém, é que considera-se fitness para entidades biológicas geneticamente diferentes (havendo, portanto, alterações genéticas no pool); mas aqui a história se complica, porque diferenças culturais não estão relacionadas causalmente a diferenças genéticas.

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