O futebol é uma caixinha markoviana de surpresas

Copiando descaradamente do blog Chi Vó Non Pó.

Original em inglês: Best Team Not Guaranteed World Cup Success ]

Por que é importante ter um pouco de sorte, junto com uma sólida estrategia para o jogo.

11 de junho de 2010

Por Chris Gorski
Inside Science News Service

Soccer -- GENERIC

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Crédito: Christopher Bruno

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WASHINGTON (ISNS) — A Copa do Mundo dá aos fãs do esporte mais popular do mundo a oportunidade de vibrarem e agonizarem com os altos e baixos das equipes de suas nações. Para os cientistas, sejam ou não fãs, é mais uma oportunidade para coletarem dados e testar hipóteses acerca do quanto a final reflete mesmo as habilidades relativas e desempenho das duas equipes - e se elas usaram as melhores estrategias possíveis para obter a vitória.

Um jogo e um torneio imperfeitos?

Quando a poeira assentar, depois do término no mes que vem dessa Copa do Mundo, provavelmente o campeão não será o time que jogou melhor, diz Gerald Skinner, astrofísico da Universidade de Maryland em College Park.

Após uma discussão no refeitório com seus fanáticos companheiros de mesa, Skinner, que admite não ser um grande entusiasta por esportes, publicou uma pesquisa em 2009 que detalhavam sua afirmação, usando técnicas familiares aos astrônomos. E as descobertas apoiavam sua posição.

"Não chega a ser um processo totalmente aleatório, porem o resultado de uma partida de futebol em particular tem uma grande dose de sorte e aleatoriedade nele", argumenta Skinner.

A média de gols por partida na Copa de 2006 foi de 2,3 gols por partida. Pela análise do número de gols e sua distribuição, que é melhor descrita pelo fenômeno estatístico chamado de
distribução de Poisson, Skinner foi capaz de demonstrar que, se uma partida fosse jogada novamente, o número de gols e até o vencedor poderiam variar consideravelmente, mesmo que ambas as equipes jogassem igualmente bem - em parte porque o futebol é um jogo de baixos escores.

Se uma seleção vence por uma diferença de 3x0, seus torcedores podem estar certos de que o melhor triunfou. Porém, segundo Skinner, se o resultado for 2x1 ou 1x0, a coisa não fica tão clara. Por exemplo, ele descobriu que nos jogos que acabaram em 2x1, quase um terço das vezes não foi o time com a melhor campanha que ganhou.

Essa incerteza influencia todo o torneio. Skinner afirma que a primeira fase da Copa do Mundo provavelmente revela os melhores times de cada chave, já que todos jogam entre si. Mas as fases seguintes são por eliminação simples e as incertezas se acumulam em quatro jogos sucessivos. Skinner calculou que a probailidade de ser a melhor equipe que ganhe a Copa do Mundo fica em torno dos 28%.

"É realmente na fase do mata-mata que a incerteza é introduzida no processo", argumenta Skinner. "Você tem que vencer quatro vezes contra a chance de um resultado inesperado".

Skinner propõe que mudanças no jogo que aumentem a média de gols fariam diminuir a chance de alguém ganhar por pura sorte. As opções incluem aumentar o tamanho do gol, ou fazer com que as equipes continuem jogando até uma diferença significativa no número de gols, mas acrescenta "eu tenho que admitir que essas opções não são realísticas".

Para alguns torcedores, a chance de que qualquer coisa pode acontecer é uma das boas coisas nos esportes. Não importa o quanto improvável for o vencedor, a marra vai durar por quatro anos.

Os times deveriam ser mais ofensivos?

Talvez mesmo porque o futebol seja um jogo de poucos pontos ou talvez porque as equipes temam sofrer um gol de bobeira e perder o jogo, o fato é que muitas equipes parecem defender muito mais do que atacar. Um modelo desenvolvido com base na Teoria dos Jogos - que pode ser usado para descobrir uma estrategia ideal, dado que o(s) adversário(s) também procuram estrategias ideiais - sugere que esse modo de ver pode ser contraproducente.

Este modelo, desenvolvido para analisar estratégias otimizadas em futebol, é o trabalho de Ricardo Manuel Santos, economista do Instituto Tecnologico Autonomo de Mexico na Cidade do Mexico. "O que eu faço é comparar como os times deveriam jogar segundo o modelo e como eles realmente jogam segundo os dados, e eu encontro grandes discrepâncias", diz ele.

Santos analisou dados de nove anos da Liga dos Campeões da UEFA, que reune as melhores euquipes da Europa e, felizmente, guarda numerosas estatísticas. Ele usou uma técnica chamada análise de fatores que ele descreve como uma maneira de estudar algo que não é diretamente observável, tal como felicidade ou comportamento de um time.

A partir das estatísticas da UEFA, Santos estimou a estrategia dos times baseado no número de chutes a gol, corners, faltas e outros fatores. O modelo refletiu como a estrategia causa impacto em um jogo.

"Eu sou capaz de encontrar a probabilidade de fazer qualquer número de gols, bem como a de levar qualquer número de gols", afirma Santos. "Eu posso ver como os times jogam, como isso afeta a probabilidade de vencer ou perder o jogo".

Santos admite que a Liga dos Campeões não é a mesma coisa que a Copa do Mundo, mas ele acredita que as descobertas devem ser aplicáveis a esta última. E ele concede que os técnicos podem não colocar seus times no ataque porque isso pode cansá-los muito cedo em uma partida, ou por outro motivo não aparente nas estatísticas.

Pode ser que os técnicos sejam simplesmente muito conservadores.

"O que eu percebo é que os times deveriam atacar muito mais do que aparentemente o fazem", diz Santos. "Eles deveriam atacar muito, quando na verdade eles parecem defender muito".

Será que um time ofensivo pode tomar conhecimento dessa pesquisa, ter um ou dois lances de sorte e ganhar a Copa do Mundo? Possivelmente.

Uma coisa é certa: o mundo inteiro vai estar de olho.


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