De onde veio a semana de sete dias?
A origem dos sete dias
Antonio Luiz M. C. Costa
Estamos tão acostumados com rotinas semanais como essa que o ciclo de sete dias nos parece tão natural quanto o dia e a noite, as fases da lua ou as estações do ano - se não mais - apesar de ser totalmente arbitrário. Às vezes nos esquecemos dessa artificialidade, como certa pesquisa que ingenuamente "descobriu" que as relações sexuais tendiam a seguir um ciclo de sete dias...
Por que sete dias e não quatro, cinco, seis ou dez? Na verdade, não há muito motivo para se escolher este ou aquele número de dias em particular, mas são bem fortes as razões para que as atividades sociais se organizem em torno de um ciclo determinado mais longo que o dia e mais curto que o mês - mais fortes quanto mais complexa for a sociedade. E quanto mais intensas forem as comunicações entre as sociedades, maior a necessidade de coordená-las entre si.
As forças que conspiraram para se ter uma mesma semana em todo o mundo são ainda mais poderosas que aqueles que levaram a tomar o meridiano de Greenwich como referência para as longitudes e, na maior parte do mundo, a dirigir pela mão direita. Essas escolhas não são necessariamente melhores que as alternativas, mas era preciso escolher. E uma vez generalizada a opção, é muito difícil mudá-la, mesmo com bons motivos.
Na Revolução Francesa, com parte da implantação do sistema decimal, tentou-se substituir a semana tradicional por outra de dez dias, mas ao contrário da reforma dos pesos e medidas, a do tempo não pegou. Da mesma forma, o teclado Dvorak, cujas primeiras teclas são PYFGC, não conseguiu desbancar o tradicional QWERTY, embora seja comprovadamente mais eficiente e menos cansativo para quem escreve em inglês (já em português, o arranjo ótimo seria outro, conhecido como "teclado nativo", que tem HXWTL como primeiras teclas).
Na África, Oceania e Extremo Oriente, só começou a reger o quotidiano em épocas recentes. Na China e nos países de sua esfera de influência cultural usava-se, até bem avançado o século XIX, um ciclo de dez dias, relacionados aos chamados "dez troncos celestiais" - derivados dos cinco elementos da tradição chinesa (fogo, água, terra, madeira e metal), cada um nas modalidades yin e yang.
Na África, usaram-se várias semanas locais e étnicas até o século XX: entre os fon, igbo e iorubás da África Ocidental, por exemplo, usavam uma semana de quatro dias, dedicados pelos últimos a Awô ("Segredo", relacionado a Ifá), Ogum, Xangô e Obatalá (Oxalá). Os Akan de Gana usavam uma semana de seis dias, chamados "do conselho (tribunal)", "da morte (funerais)", "de trás (dia de azar)", "da cidade (político, dedicado aos cerimoniais reais)", "para nada (dia de descanso)" e "novo (recomeço da semana)".
Nos tempos modernos, foi a difusão da civilização ocidental - e, em menor grau do Islã - que impôs a semana de sete dias ao mundo. Em ambos os casos, o ciclo de sete dias tem uma origem dupla. De um lado, os astrólogos de Alexandria, que organizaram a semana acreditando serem os dias regidos sucessivamente pelos sete "planetas" então conhecidos, crença que acabou por se espalhar por todo o Império Romano e deste às culturas vizinhas. De outro, a tradição hebraica do shabbath ou sábado, que impunha um dia a cada sete dedicado ao culto religioso, com restrição ao trabalho braçal e servil.
Tanto os hebreus quanto os alexandrinos foram, provavelmente, influenciados pelas civilizações da Mesopotâmia. Muito antes que os profetas e sacerdotes de Judá pusessem por escrito os primeiros livros da Torá ou Antigo Testamento, ou mesmo que os hebreus pudessem ser identificados como um povo, os sumérios de Ur já observavam um ciclo de sete dias, relacionado aos sete planetas, sete céus, sete ramos da árvore da vida e os sete deuses que regiam todas essas coleções de sete elementos: Utu, Nanna, Gugalanna, Enki, Enlil, Inanna e Ninurta.
Por volta de 2350 a.C., Sargão I, o rei de Akkad, conquistou Ur e o resto da Suméria, unificou a Mesopotâmia e estendeu a toda a região o uso dessa semana de sete dias. Mais tarde, com a ascensão do poder da Babilônia, os nomes semitas dos deuses desta cidade se impuseram aos sumerianos, aos quais eram considerados equivalentes.
O ciclo teológico-astrológico de sete dias - representado também pelos sete escalões de Etemenanki, a grande torre de Babel - passou a se compor de Shamash (Sol), Sin (Lua), Nergal (deus da guerra e da morte, correspondente ao planeta hoje chamado Marte), Nabu (deus dos escribas, planeta Mercúrio), Marduk (deus patrono de Babilônia, tido pela cidade como supremo, planeta Júpiter), Ishtar (deusa do amor, planeta Vênus) e Ninurta (deus da agricultura e da saúde, planeta Saturno). Enquanto no dia de Ishtar era recomendável cultuar a deusa praticando o ato sexual, o último da semana era um dia perigoso, no qual qualquer empreendimento podia acabar mal. Ainda hoje, o planeta Saturno continua associado pelos astrólogos a má sorte, doenças e provações. Não era um dia de descanso, mas se evitava certas atividades.
Os hebreus, ao que tudo indicam, adotaram esse ciclo, alterando seu significado. Para seu monoteísmo, os deuses nada significavam, mas o sétimo dia babilônico tornou-se um dia de culto a Javé, adotando o nome do dia que, uma vez por mês, os babilônios dedicavam especialmente ao culto dos deuses, principalmente a Lua. Pois shabbatu, em Babilônia, era o dia de "apaziguar os deuses" (a palavra, de origem suméria, significa "apaziguar-corações").
Quando foi inventado esse sábado? Não se sabe com certeza. Talvez durante o exílio dos judeus em Babilônia, talvez antes, ainda nos tempos dos reis de Judá. Mas há indícios de que os hebreus seguiram originalmente uma semana de dez dias. Sabe-se que o Egito do tempo dos faraós - que por muito tempo dominaram Canaã e os ancestrais dos hebreus - tinham de fato uma semana de dez dias, cuja sombra ainda se percebe nos "decanatos" da astrologia, que dividem o ano e o Zodíaco em 36 seções de aproximadamente dez dias. E a própria narrativa do Gênesis dá a impressão de ter sido originalmente dividida em dez dias ou fases, para ser mais tarde "comprimida" nos sete dias da semana adotada mais tarde. Vejamos:
Dia 1: Deus (no original, Elohim) a) cria o céu e a terra (não vê que é bom, porque tudo ainda está escuro) e b) separa a luz das trevas "e vê que é bom". Seriam os dias 1 e 2 do ciclo original de dez dias.
Dia 2: Deus cria o firmamento para separar "as águas de baixo" das "águas de cima" "e vê que é bom". Seria originalmente o terceiro dia.
Dia 3: Deus a) separa as terras dos mares "e vê que é bom" e b) cria as plantas "e vê que é bom". Seriam o quarto e quinto dia "egípcios".
Dia 4: Deus cria o sol e a lua "e vê que é bom": seria o sexto dia.
Dia 5: Deus cria os peixes e as aves "e vê que é bom": sétimo dia.
Dia 6: Deus cria a) os animais terrestres "e vê que é bom" (oitavo dia) e b) o homem e a mulher, completa a obra "e vê que é muito bom" (nono dia).
Dia 7: Deus descansa: originalmente, o décimo dia egípcio.
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