Pergunte-se a um integrante do comando do PSDB ou a dirigente nacional do PT qual dos dois partidos se sente mais prejudicado com a entrada de Marina Silva na disputa presidencial, a resposta será a mesma.
Acho que ela tira mais votos de nós, concluem ambos, que só não falam em coro porque a análise é feita em dia e local diferentes. O tucano diz a frase numa terça-feira no bairro Morumbi e o petista a repete na noite de sábado em Higienópolis, em São Paulo.
A coincidência de opiniões não representa uma certeza absoluta. Até que as próximas pesquisas desenhem melhor o comportamento do eleitorado, tanto o PT quanto o PSDB vivem na dúvida a respeito de quem sofre mais perdas com a candidatura verde.
Que Marina leva desvantagem para um dos lados, todos concordam, já que sua entrada em cena acabou com o plano do presidente de fazer da eleição um plebiscito. Mas ninguém sabe ao certo quem perde mais.
Em princípio, cada um dos lados se sente a maior vítima.
A primeira impressão do PSDB é a de que Marina Silva conquista aquele eleitor decepcionado com o PT e que ficaria com os tucanos só por falta de opção, um contingente nada desprezível com o qual estava contando a oposição.
Já o PT acha que esse mesmo eleitorado poderia hesitar, mas não estava perdido. Antes de Marina aparecer como alternativa, os petistas mantinham a esperança de que, na hora da polarização entre PT e PSDB, prevalecesse a rejeição aos tucanos em geral e ao governo de Fernando Henrique Cardoso em particular.
Com a ex-ministra do Meio Ambiente na disputa, os petistas desiludidos teriam onde desembarcar.
Mas, o fato de reconhecerem de maneira igualitária os danos provocados por uma candidatura do PV não quer dizer que PT e PSDB tenham a mesma visão a respeito de como lidar com a questão durante a campanha.
Os tucanos parecem enxergá-la como uma possível aliada. Já os petistas - os engajados no projeto de Lula para Dilma Rousseff , bem entendido - a veem como uma bomba a ser desarmada, caso suas intenções de voto venham a crescer de maneira preocupante.
Como não é possível cooptá-la - para o posto de vice, por exemplo -, a única opção seria explorar seus pontos fracos. Do ponto de vista do PT, os seguintes: radicalismo na questão ambientalista, defesa inflexível dos movimentos sociais, MST incluído, questionamentos sobre a conduta de dirigentes do PV, identificação religiosa com teses repudiadas pelos modernos, como a posição dela contra o aborto.
Se Marina crescer muito, há no PT o sentimento de que o PSDB se aliaria ao bombardeio. Uma das armas tidas como poderosas é a filiação (e militância) do deputado Sarney Filho no Partido Verde. Pensa-se em apresentar a candidata como companheira do filho de Sarney.
Um ato ousado para o partido que salvou o pai de ser processado pelo Senado por quebra de decoro parlamentar.
Além de uma ação de execução complicada essa de desconstrução de imagens, pois há sempre o risco - como se viu na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2008 - de o feitiço fazer picadinho do feiticeiro. |
Comentários