Filosofia da Física e Física da Filosofia
Por que os físicos gostam tanto de Thomas Kuhn?
Não, não é (apenas) por que Kuhn era físico. Talves seja mais por que suas intuições filosóficas e históricas partem não apenas de uma praxis científica mas também incorporam, com anos de antecedência, conceitos como dinâmica de avalanches e equilíbrio puntuado (transições entre atratores) em moda nos dias de hoje.
É claro que Kuhn se inspirou na dinâmica de transições entre atratores socio-econômicos de Marx e Engels (na verdade, principalmente Engels, ver aqui). É por isso que o liberal Popper e mesmo seu discípulo Lakatos tinham dificuldade em reconhecer os méritos da abordagem Kuhniana: em tempos de guerra fria, não dava para ser muito isento.
Em todo caso, como estamos em outro século e outro mundo, podemos agora nos sentir confortáveis com Kuhn ( e reconhecer também que ele não é um relativista cultural). Sua crítica à visão de progresso em ciência tem fundamento, e isso é facil de entender (para quem conhece o conceito de busca de mínimos em superfície rugosa).
Se você quer achar o mínimo de uma função (por exemplo, uma função erro E( T) que mede a adequação empírica de uma teoria, compatibilidade com outras teorias, simplicidade, etc - você pode adicionar termos sociológicos também nesta função custo), a busca do mínimo global é bastante difícil.
Se você está dentro da bacia de um mínimo (paradigma), o progresso é rápido e desce basicamente pelo gradiente ("ciência normal"). O "progresso" está bem definido e é mensurável pela diminuição do erro E.
Mas então o progresso para e leva um tempo até a comunidade perceber que está em um minimo local. Para sair desse mínimo, ela deverá fazer saltos, muita vezes indo contra a racionalidade estrita (definida pela descida Popperiana pelo gradiente onde só se aceita uma nova teoria se ela tiver E(T) menor que a anterior).
Esses saltos (possivelmente um vôo de Levy) se referem ao período de crise e transição para outros paradigmas. É possível que a comunidade comece a explorar um novo paradigma não porque sua função E(T) é menor que a do paradigma anterior, mas sim porque a nova bacia de atração é promissora, ou seja, inexplorada mas facilmente explorável, e que tem o potencial de diminuir sua função E(T) no futuro. Ou seja, a comunidade faz uma aposta de que o novo mínimo será mais baixo que o anterior.
Ora, é dificil mensurar progresso nessa mudança de bacias de mínimos feita "horizontalmente", no sentido que o novo mínimo pode muitas vezes ter um overlap grande não com o mínimo anterior mas sim com outros mínimos mais antigos. Exemplo: a relatividade geral se assemelha conceitualmente ao Aristotelismo ao propor que existe uma diferença entre movimento natural (geodésicas) e movimento forçado (onde aparecem forças não gravitacionais). Na RG, assim como em Aristóteles, diferentes regiões do espaço não são equivalentes. Ou seja, em termos conceituais, a RG é um retorno parcial a um paradigma anterior à gravitação newtoniana.
Mesmo a distinção entre mundo supra-lunar e sub-lunar encontra equivalentes (na física atual) entre sistema Hamiltoniano e sistema dissipativo. E assim vai...
Coloquei a palestra "Filosofia da Física e Física da Filosofia" sobre esses temas Kuhnianos no meu arquivo da STOA. Tem outras discussões ligando a questão da racionalidade tácita Kuhniana com o aprendizado em redes neurais artificais, etc. Para quem quiser ver, clique aqui.
Não, não é (apenas) por que Kuhn era físico. Talves seja mais por que suas intuições filosóficas e históricas partem não apenas de uma praxis científica mas também incorporam, com anos de antecedência, conceitos como dinâmica de avalanches e equilíbrio puntuado (transições entre atratores) em moda nos dias de hoje.
É claro que Kuhn se inspirou na dinâmica de transições entre atratores socio-econômicos de Marx e Engels (na verdade, principalmente Engels, ver aqui). É por isso que o liberal Popper e mesmo seu discípulo Lakatos tinham dificuldade em reconhecer os méritos da abordagem Kuhniana: em tempos de guerra fria, não dava para ser muito isento.
Em todo caso, como estamos em outro século e outro mundo, podemos agora nos sentir confortáveis com Kuhn ( e reconhecer também que ele não é um relativista cultural). Sua crítica à visão de progresso em ciência tem fundamento, e isso é facil de entender (para quem conhece o conceito de busca de mínimos em superfície rugosa).
Se você quer achar o mínimo de uma função (por exemplo, uma função erro E( T) que mede a adequação empírica de uma teoria, compatibilidade com outras teorias, simplicidade, etc - você pode adicionar termos sociológicos também nesta função custo), a busca do mínimo global é bastante difícil.
Se você está dentro da bacia de um mínimo (paradigma), o progresso é rápido e desce basicamente pelo gradiente ("ciência normal"). O "progresso" está bem definido e é mensurável pela diminuição do erro E.
Mas então o progresso para e leva um tempo até a comunidade perceber que está em um minimo local. Para sair desse mínimo, ela deverá fazer saltos, muita vezes indo contra a racionalidade estrita (definida pela descida Popperiana pelo gradiente onde só se aceita uma nova teoria se ela tiver E(T) menor que a anterior).
Esses saltos (possivelmente um vôo de Levy) se referem ao período de crise e transição para outros paradigmas. É possível que a comunidade comece a explorar um novo paradigma não porque sua função E(T) é menor que a do paradigma anterior, mas sim porque a nova bacia de atração é promissora, ou seja, inexplorada mas facilmente explorável, e que tem o potencial de diminuir sua função E(T) no futuro. Ou seja, a comunidade faz uma aposta de que o novo mínimo será mais baixo que o anterior.
Ora, é dificil mensurar progresso nessa mudança de bacias de mínimos feita "horizontalmente", no sentido que o novo mínimo pode muitas vezes ter um overlap grande não com o mínimo anterior mas sim com outros mínimos mais antigos. Exemplo: a relatividade geral se assemelha conceitualmente ao Aristotelismo ao propor que existe uma diferença entre movimento natural (geodésicas) e movimento forçado (onde aparecem forças não gravitacionais). Na RG, assim como em Aristóteles, diferentes regiões do espaço não são equivalentes. Ou seja, em termos conceituais, a RG é um retorno parcial a um paradigma anterior à gravitação newtoniana.
Mesmo a distinção entre mundo supra-lunar e sub-lunar encontra equivalentes (na física atual) entre sistema Hamiltoniano e sistema dissipativo. E assim vai...
Coloquei a palestra "Filosofia da Física e Física da Filosofia" sobre esses temas Kuhnianos no meu arquivo da STOA. Tem outras discussões ligando a questão da racionalidade tácita Kuhniana com o aprendizado em redes neurais artificais, etc. Para quem quiser ver, clique aqui.
Comentários
Renato.
Dilma praticava crimes, como assalto a cofre, no tempo da ditadura civil-militar. Além disso mentiu ao declarar que possue diploma superior e mestrado. Não é muito confiável.
Faraday era de uma seita evangélica, Maxwell era evangélico, Plank era protestante. Edward Wilson, biólogo evolucionista uma ordem de grandeza superior a Dawkins, era batista e agora é deista. O diretor atual do NIH, é evangélico, nomeado por Obama (outro evangélico).
Como você pode generalizar tanto? Com que base empirica? Os protestantes (ou seja, as pessoas que fizeram a Reforma no século XV e que não devem ser confundidos com os evangélicos) fundaram universidades incriveis na Alemanha e nos EUA (Harvard é uma delas).
Ateus como Nietszche são anticientificos, e o ateismo de Stalin não ajudou muito a genética na URSS. Mas nem por isso eu concluo que os ateus são anticientificos em geral. Existem um monte de ateus anticientificos partidarios do existencialismo, e muitos artistas ateus que detestam a ciencia, mas e dai?
Aqui no Brasil temos grandes Universidades como a ULBRA (Luterana = protestante) e a UNIMEP (Metodista = evangélica) que fazem muito mais ciencia do que as universidades laicas tipo UNIP, UNIBAN e outras fábricas de canudos.
Então eu simplesmente não consigo entender o que você está querendo dizer. Você tem certeza das informações que possui? Que evidência empirica seria suficiente para voce mudar sua opiniao de que protestantes e evangelicos são, em geral, contra a ciencia?
Quem é contra a ciencia é a direita religiosa dos EUA, e eventualmente alguns reflexos importados no Brasil desse movimento, que é um fenomeno bem localizado e restrito.
Mas confundir a direita religiosa com a Marina, partidaria da Teologia da Libertação, de esquerda, companheira de luta de ateus no PT durante a maior parte de sua vida, é o cúmulo da desinformação!