Crescimento super-exponencial da gripe suína no Brasil
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Obviamente isto é um artefato do processo de confirmação de casos, a menos que reflita um aumento da transmissibilidade da gripe. Ariadne, minha estudante de mestrado, está trabalhando em um modelo epidêmico que poderia reproduzir tal curva.
É claro que mais cedo ou mais tarde a capacidade do país de confirmar casos irá saturar (como já aconteceu em outros países). Mas se usarmos o conjunto de dados da última semana como preditor, podemos esperar atingir 1 milhão de casos (reais, que não serão necessariamente confirmados) na primeira semana de agôsto. Isso implicará em 10.000 casos graves (usando uma taxa super conservadora de 1% de hospitalização - a taxa real está entre 5 e 10%). Dado que temos atualmente 1.000 leitos para os casos graves, eu sinceramente não sei o que vai acontecer com os outros 9.000.
O pico da epidemia provavelmente se dará no final de agôsto, especialmente se as ondas de frio permanecerem até o final daquele mês.
É claro que isto é apenas um "educated guess". Mas se você olhar com cuidado os posts sobre gripe suína deste blog, verá que tenho tido um acerto de quase 100% nos meus chutes educados.
Comentários
Temos que levar em conta que grande parte destes casos da Argentina vieram após o feriado de Corpus Christi. Ainda não detectamos os casos de infecção pessoa-pessoa aqui no país. No fim desta semana provavelmente teremos uma ideia melhor se essa infecção já iniciou-se de forma sustentada.
Daí teremos sua esperada exponencial...
É como dizer, no momento do disparo do revolver em uma corrida, que a velocidade dos corredores é zero. Isso é verdade, mas inferir (ou sugerir) a partir disso que os corredores ficarão parados é absurdo. E é isso que o ministro Temporão ficou sugerindo para a população nas últimas semanas.
Medidas puntuais nada dizem sobre a progressão ou regressão de um processo.
Precisamos saber a velocidade e a aceleração. No momento, não apenas temos uma boa velocidade de aumento de casos, mas também uma aceleração nessa velocidade.
Embora o processo ainda não seja autócne, o numero de casos implica em aumento potencial de focos da gripe. Ou seja, basta que a empregada que estiver cuidando de um doente dentro de uma mansão fique gripada e volte para seu bairro que a coisa fica fora de controle.
O problema é que a contenção nunca deveria ter sido eleita como alvo primordial. Na verdade, imagino que ela não é, entre as pessoas sérias do Ministério da Saúde. A principal ação é preparar o sistema de saúde para aguentar o tranco durante a epidemia. E, quando se fala em preparação, deve-se sempre considerar o worst case scenario, por que não adianta chorar depois pelo leite derramado.
Curioso que a taxa de morte por caso confirmado é de 1% em vez da média mundial de 0.5%. Será o frio, serão novas cepas ou o numero de casos na Argentina está sendo subestimado? OK, pode ser uma flutuação estatística também...
Você está correto. A condição do Brasil de não ter evidências para uma transmissão sustentada é algo que pode ser modificado a qualquer momento, tendo em vista o crescimento no números de casos.
Porém, até o momento, a Influenza A (H1N1) se apresenta com os mesmos sintomas e também consequências de uma gripe comum, não necessitando assim, de alarde da população.
E mesmo com a baixa letalidade desta doença, o Ministério da Saúde investe no tratamento da doença e em suas medidas de prevenção. Há fiscalização em todos os meios de transportes internacionais, distribuição de materiais educativos, assim como formulários para que os passageiros preencham com seus dados pessoais. Hoje, o Brasil possui 53 hospitais de referência com quase 900 leitos de isolamento.
Os pacientes confirmados com a doença são mantidos em isolamento domiciliar e recebem todo medicamento e acompanhamento necessário. Apenas pessoas com indicação médica ou agravamento no quadro ficam internadas (fernanda.rocha@saude.gov.br).