Brasil: primeira divisão do futebol mundial, terceira divisão na ciência internacional

Folha de S. Paulo
Um movimento pelas ciências
Jorge Werthein

O que impede países como o Brasil de se sobressaírem no campo científico, como já se sobressaem nos esportes e nas artes em geral?
OITENTA E cinco por cento dos brasileiros desconhecem cientistas e instituições de pesquisa importantes no Brasil, segundo pesquisa nacional do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), realizada entre 2006 e 2007.
Em resposta, o MCT decidiu criar um movimento, em cada município, para discutir em escolas, universidades, instituições de pesquisa e espaços públicos em geral a situação da ciência e da tecnologia nos municípios, nos Estados e no país: seus antecedentes, contexto atual e desafios futuros. A ideia é obter também contribuições de pessoas e instituições de cada lugar para a ciência, a tecnologia e o conhecimento em geral.
O pontapé inicial desse trabalho será a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2009, a realizar-se entre os dias 19 e 25 deste mês. Não por acaso, a semana deste ano terá como tema principal Ciência no Brasil.
A iniciativa é louvável, até porque imprescindível. Envolver desde o cidadão comum até os gestores públicos nos níveis municipal e estadual e, se possível, também a iniciativa privada é passo decisivo para o avanço da ciência e da tecnologia no país.
Mas deve servir também como subsídio e impulso para um salto mais alto: o desenho de uma política de Estado na área de ciência e tecnologia.
A ausência de uma política de fôlego para o setor certamente está entre as explicações para o desconhecimento dos grandes nomes da ciência no Brasil -e, cabe destacar, essa é apenas a ponta do iceberg.
Somente uma política bem concertada e agressiva pode alavancar o país para um patamar mais elevado do ponto de vista científico-tecnológico.
Para ter uma ideia da carência de países como o Brasil no âmbito da C&T, 78% dos centros e museus de ciências do mundo estão na América do Norte (EUA e Canadá) e na Europa. Apenas 9% na América Latina.
Obviamente, o tamanho da população dessas regiões ajuda a explicar o contraste no número de centros e museus de ciências, mas não representa atenuante forte o bastante para despreocupar os latino-americanos.
A pequena quantidade de centros e museus de ciências na América Latina é só um dos indicadores de um fato velho conhecido: o investimento insuficiente em ciências na região.
Como se sabe, esse investimento é, simultaneamente, causa e consequência do desenvolvimento dos países. Não por acaso, as nações industrialmente mais avançadas e com melhores IDH são também aquelas que investem mais no setor científico.
No caso de investimentos para formação de novos cientistas, um fato sobressai: não se trata apenas de investir em talentos que se destacam nas universidades -o que também é muito importante. Trata-se de investir na educação científica desde os primeiros anos escolares. Curiosamente, parece ser isso o que tem feito a maioria dos ministérios da educação dos países desenvolvidos.
Qual seria, então, o gargalo? O que impediria países como o Brasil de se sobressaírem no campo científico, como já se sobressaem nos esportes e nas artes em geral? Como as ciências em geral não dependem apenas de talento individual, é preciso que haja apoio para o desenvolvimento das propensões científicas.
O desempenho dos estudantes brasileiros em ciências tem sido medíocre, como o atesta o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês).
Segundo o exame, mais de 60% dos alunos brasileiros não apresentam competência suficiente em ciências para lidar com as exigências e os desafios mais simples da vida cotidiana atual. O Brasil ocupa o 52º lugar entre os 57 países submetidos ao exame.
Entre as principais causas para o fraco desempenho dos estudantes brasileiros na área de ciências estão o ingresso tardio na escola, o descumprimento das leis relativas à educação de crianças e jovens, a formação e o aproveitamento inadequado dos professores do ensino fundamental, a alta rotatividade desses docentes nas instituições escolares públicas e o erro histórico de deixar em segundo plano o ensino de ciências.
Portanto, investir em ciências -na educação científica, no apoio a pesquisas, na construção de museus, entre outras possibilidades- deve ser uma política de Estado, que não esteja à mercê dos humores da política.
As ações e atividades da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia 2009 são excelente oportunidade tanto para refletir quanto para buscar iniciativas de longo prazo para a estratégica questão do desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil.

JORGE WERTHEIN , 68, sociólogo, doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é vice-presidente da Sangari Brasil e presidente da Sangari Argentina. Foi representante da Unesco no Brasil.

Comentários

Vladimir disse…
*BBC Brasil*
Atualizado em 27 de janeiro, 2010 - 09:12 (Brasília) 11:12 GMT


Produção científica do Brasil ultrapassa a da Rússia, indica levantamento

A produção científica brasileira ultrapassou a da Rússia, antiga
potência na área, caminha para superar também a da Índia e se consolidar
como a 2ª maior entre os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), segundo
levantamento feito pela Thomson Reuters.

O levantamento acompanhou a produção científica nos quatro países com
base na análise das 10.500 principais revistas científicas do mundo.

Segundo a pesquisa, a produção brasileira avançou de 3.665 para 30.021
artigos científicos publicados entre 1990 e 2008. No mesmo período, a
produção russa manteve-se estável -- o número de 1990, de 27.603
artigos, é praticamente o mesmo que o de 2008 -- 27.605 artigos.

A produção científica da Índia, que em 1990 contabilizava 13.984 artigos
publicados, chegou a 38.366 artigos em 2008.

Se o índice de aumento da produção científica dos países se mantiver, o
Brasil deverá ultrapassar a Índia nos próximos anos.

O levantamento indica ainda que a produção científica chinesa, que em
1990 ainda estava atrás da russa e da indiana, com 8.581 artigos, chegou
a 2008 com 112.318 artigos, numa expansão que, se mantida, verá a China
ultrapassar os Estados Unidos e se tornar líder mundial em produção
científica até 2020.

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http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2010/01/100127_brasil_russia_ciencia_rw.shtml
Vladimir disse…
*Dados revisados*

Segundo Jonathan Adams, diretor de avaliação de pesquisas da Thomson
Reuters, os dados dos levantamentos foram revisados após 2007, para
evitar que a base de revistas científicas analisadas refletisse um viés
pró-países desenvolvidos.

"A revisão dos dados levou a uma considerável elevação do número de
artigos científicos de China, Brasil e Índia. Porém essas elevações
refletiram tendências já evidentes nos dados, em vez de mudar a
trajetória geral", explicou Adams à BBC Brasil.

Segundo ele, os dados dos últimos anos já indicavam que a produção
brasileira superaria a russa, o que ficou expresso nos números de 2008,
mas ele observa que, se a base de análise já tivesse sido revista antes,
isso já teria acontecido há vários anos.

De acordo com os últimos dados compilados, de 2008, a produção
científica brasileira naquele ano representou 2,6% do total de 1.136.676
artigos publicados em todas as 10.500 revistas analisadas. Em 1990, o
Brasil tinha apenas 0,6% da produção mundial.

A produção científica americana - 332.916 artigos em 2008 - ainda
representa 29% de todos os artigos publicados no mundo, enquanto a
chinesa é de 9,9%. Em 1990, porém, os Estados Unidos tinham 38% de toda
a produção científica mundial, enquanto a China respondia por apenas
1,4% do total.

No mesmo período, a produção russa, que já foi considerada uma das mais
avançadas do mundo, passou de 4,7% do total em 1990 para apenas 2,4% em
2008.

A produção indiana, por sua vez, teve sua participação no total mundial
elevada de 2,3% para 3,4% no período, numa elevação proporcionalmente
menor que as da China e do Brasil.

*Gastos*

Em sua análise da produção científica do Brasil, a Thomson Reuters
observa que os gastos com pesquisa e desenvolvimento no Brasil chegaram
em 2007 a quase 1% do PIB, proporção inferior aos cerca de 2% gastos nos
Estados Unidos e na média dos países de desenvolvidos, mas ainda bem
acima de outros países latino-americanos.

Segundo o levantamento, o Brasil tem 0,92 pesquisador para cada mil
trabalhadores -- bem abaixo da média de 6 a 8 pesquisadores por mil
trabalhadores dos países do G7, o grupo das nações mais industrializadas
do planeta.

Apesar disso, o documento afirma que a proporção brasileira é semelhante
à de outros países em desenvolvimento, como a própria China, e que a
base de pesquisadores vem crescendo.

Segundo a Thomson Reuters, o Brasil formou cerca de 10 mil novos
pesquisadores doutores no último ano analisado, num crescimento de dez
vezes em 20 anos.

O levantamento indica ainda que a produção científica do país é mais
forte em áreas como pesquisas agrícolas e ciências naturais.

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http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2010/01/100127_brasil_russia_ciencia_rw.shtml

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