Dawkins e a Tolerância
Creationism row forces out UK educator
The director of education at Britain's Royal Society has been forced to resign after a massive outcry in the wake of widespread misreporting of comments he made about creationism in the classroom.
Michael Reiss, a professor at London's Institute of Education and an ordained minister in the Church of England, made the remarks at the British Association for the Advancement of Science's annual Festival of Science on 11 September in Liverpool. Three Nobel-prizewinning society fellows wrote to the society's president, Martin Rees, saying that they were "greatly concerned" at media reports of Reiss's talk. They are Richard Roberts, chief scientific officer of New England BioLabs in Beverly, Massachusetts; Harold Kroto of Florida State University in Tallahassee; and John Sulston of the University of Manchester, UK.
The Royal Society initially insisted that Reiss had been misrepresented and that his views do not differ from the society's position that "creationism has no scientific basis and should not be part of the science curriculum". After the letter of complaint and with the reported statements continuing to receive press coverage, including hostile opinion pieces, the society announced Reiss's departure on 16 September.
“To call for his resignation ... comes a little too close to a witch-hunt for my squeamish taste.”
Richard Dawkins
University of Oxford
Comentários
Entretanto, eu até concordo com ele quanto a impingir religiões às crianças: eu nunca fiz, nem farei isto. Meus filhos foram criados em um ambiente de saudável ceticismo. Minha filha aderiu a minha religião; meu filho continua agnóstico.
O pior de tudo isso é que a posição de Dawkins não tem nada de "científica": é puro "fundamentalismo ateísta" que confunde "ausência de provas" com "prova de ausência".
"Cria cuervos... te comeran los ojos"...
Eu acho que não podemos ter uma visão estática da psique humana. Em geral, durante a adolescencia, as pessoas acabam por rejeitar as crenças dos pais (por exemplo, Frederick Engels foi criadono puritanismo evangélico alemão).
Talvez o contato na infancia com memes religiosos funcione como uma vacina: é melhor ter contato com memes enfraquecidos do que com memes religiosos selvagens. Eu sempre me lembro do caso do Changeux (biólogo ateu que escreveu Neuronal Man): o filho dele se tornou monge tibetano.
Finalmente, será tudo tão sério assim? o cara quer vestir a camisa do Palmeiras no filho, será que é da nossa conta policiar isso só porque haverá a possibilidade de no futuro ele se tornar um fundamentalista futebolistico (membro de tgorcida organizada)? Lembremos que no Brasil, a violencia futebolistica mata centenas de vez mais que a violencia religiosa.
Também devemos considerar sua importância no debate sobre níveis de seleção...
Acho que Dawkins também enxergou isso, e é por isso que ele anda usando discursos com muita retórica (o que implica em um monte de falacias - ver list of fallacies na wikipedia e compare com argumentos do God Delusion). Ele aparentemente concluiu que é preciso usar argumentos que apelem para o medo, para o ridiculo, etc.
Para mim, os fins não justificam os meios: o ateismo pode estar correto, mas se você o defender com argumentos falaciosos e retorica, esse discurso deixa de ser cientifico. Ou seja, eu discordo do discurso nao-cientifico em defesa do ateismo, nao do ateismo.
E isso nao tem nada a ver com a qualidade de outros livros de Dawkins, sua bela escrita, seu papel na divulgação cientifica ou na Biologia (será que o trabalho científico dele é melhor que o de Stephen Jay Gould?)
A pergunta é: OS criacionistas ganharam uma grande munição com essa "caça às bruxas" promovida pela Royal Society, e todo mundo está comentando isso na internet. Veja o editorial na Nature desta semana, condenando a demissão de Reiss.
http://www.nature.com/nature/journal/v455/n7212/full/455431b.html
Só que agora não adianta Dawkins falar de seu squeamish taste. Foi ele que criou esse clima de intolerância frente aos religiosos moderados (ou liberais). Não adianta agora falar que não era bem isso que ele queria dizer.
Gould tem um texto mais elegante e "literário", por vezes até obtuso. Gosto muito dos seus ensaios, apesar de alguns apelarem para comparações com beisebol (esporte muuuuito "interessante"...) e analogias forçadas. Dois autores diferentes, igualmente importantes, especialmente para divulgar a teoria da evolução (Gould para um público mais acadêmico, Dawkins tentando falar para o "povão" que lê e entende alguma coisa).
Não acho que houve uma evolução cérebro-religião. Isso tem a ver com a cultura que é passada pela família (e pelo resto da sociedade) para os filhos - uma criança muito provavelmente NÃO desenvolveria uma atitude religiosa (dogmática) perante à vida se assim não fosse ensinada. Nesse sentido, acho a questão dos memes uma extrapolação desnecessária, assim como "evolução memética".
Em alguns documentários, o Dawkins pisa no tomate quando age feito o Michal Moore, manipulando as situações e se mostrando tendencioso ao extremo. Dessa forma, ele parece "pregar" para os já convertidos: poucos que crêem em deuses ou afins de fato vão dar ouvidos aos seus argumentos, muitas vezes corretos. Aí o negócio é apelar...
O Gould escreveu um livro sobre a contraposição religião X ciência (The rock of ages). Lá, ele propõe que se considere a existência de dois magistérios diferentes, que não se sobrepõem se respeitados os limites de abrangência e o escopo de discussão de cada um. No entanto, isso é uma solução de compromisso muito PSDB, em cima do muro - muito do que a ciência explica hoje era tido como da alçada das religiões no passado. Se os cientistas não tivessem ousado fugir aos seus domínios, o que teria (ou não teria) acontecido?
O Dawkins é melhor quando defende a evolução e a perspectiva científica da vida. Ele peca quando se deixa levar pelo "clamor das multidões" e entra na discussão sem fim sobre o valor das religiões.
Apenas defender a ciência, no entanto, não vende tantos livros (se bem que o Sagan vendeu milhões de cópias do seu Cosmos)...
Agora, dado que eu tenho muitas simpatias pela psicologia evolucionária e neuroteologia, acho dificil que religião seja apenas um comportamento aprendido, cultural. Religiao, na pre-historia, favorecia unidade comunitaria, cura por efeito placebo, psicoterapia de grupo, unidade ideologica e politica etc. É obvio que se eu tiver uma tendencia instintiva a adotar religiões (no sentido Chomskyano de um instinto para linguagem que facilita a aquisição da mesma e sua estrutura profunda sem determinar qual o formato superficial dela), então essa tendencia seria selecionada Darwinianamente. É isso que Darwin prediz. Ou não?
Antes de cursar biologia, fiz um ano de jornalismo e também sei mais ou menos como funciona parte da imprensa...
Falar de evolução do comportamento humano dentro de um referencial adaptacionista é muito complicado. QUALQUER coisa pode ser explicada dessa forma. Podemos arrumar uma narrativa selecionista-adaptacionista com coerência, lógica e, aparentemente, seguindo a argumentação evolutiva, para explicar a existência de qualquer estrutura morfológica, por exemplo. Isso também vale para o comportamento.
No entanto, narrativas como essas são difíceis de testar.
Para se dizer que houve uma coevolução cérebro-religião, deveríamos, necessariamente, dizer que em algum lugar a religião está "escrita nos genes". Hummm...
Além do mais, falamos "religião" mas não existe A religião - o que existem são centenas, milhares (milhões?) de crenças, muitas sem nada em comum.
O homem vive em sociedade porque foi selecionado positivamente nesse sentido ou isso é uma questão cultural, também? Espécies de formigas sociais, quando separadas das suas funções nativas, morrem e a representatividade dos seus genes diminui drasticamente na geração seguinte. Isso não acontece na nossa espécie.
Talvez o fato de ter um tendência instintiva a adotar uma religião possa ter trazido algum benefício quanto à manutenção da carga gênica para a posteridade do portador. Será mesmo? Acho que isso vale tanto quanto dizer que nascer "em berço esplêndido" aumenta as chances dos seus genes estarem presentes na geração seguinte... o que não é verdade, visto que isso não significa, necessariamente, mais filhos ou maior chance de sobrevivência diferencial das crias...
As religiões que temos contato hoje são muito recentes e não consigo enxergar essa coevolução...
Ronaldo do Bafana Ciência
Acho que todos nós teriamos grande proveito em assistir de novo ao filme CONTATO, inspirado no livro do Carl Sagan.
Acho que Dawkins prefere defender a posição de que todos os religiosos no fundo são fundamentalistas (ver video A Origem de Todos os Males no YouTube) por dois motivos:
1. Socio-Politico-Psicanalitico: São os fundamentalistas os que mais incomodam os cientistas. Dawkins na verdade tem medo das massas religiosas (mesmo dos quakers e budistas pacifistas!), medo de uma nova era de intolerancia aos ateus, e é esse medo aristocrático deles (e não a simples razão científica) que é o motor de sua cruzada antirreligiosa. Eu só não entendo em que sentido Gandhi ou Luter King seriam representantes dessa tal Origem de Todos os Males. (En passant, a frase é uma paráfrase de Paulo de Tarso, que diz que "o amor ao dinheiro é a origem de todos os males". Eu acho que Paulo tem mais chance de estar correto.
2. O segundo motivo é que ao retratar todos os religiosos como criptofundamentalistas, ele consegue criticar a religião de forma mais fácil e espetacular: é o tipo de falácia do homem de palha com a qual não posso compactuar.
Eu acho que, daqui a uma década, veremos como a cruzada de Dawkins foi no final prejudicial à divulgação e aceitação da ciência pela sociedade. Quem viver, verá! (Eu aposto um conjunto de 4 cervejas Colorado nisso).
Acho que vale ler o artigo do Flavio Paranhos na bula desta semana:
http://www.revistabula.com/colunas/735/Delirios
E se miséria pouca é bobagem, tem também um meu sobre os delírios religiosos de Sir. C. Sagan:
http://www.revistabula.com/colunas/737/Sagan-e-a-teologia-da-22cientificacao22
Acho que você vai ganhar a cerveja se alguém apostar com você.
abr
Ronaldo
Tenho que discordar de você. O artigo da revista bula está longe de ser ótimo. Muito longe.
Você já percebeu que as defesas sobre Deus que lemos fazem sempre referência ao deus cristão, ocidental?
E os bilhões de chineses não cristãos?
E os romanos antigos, que acreditavam em divindades quase mundanas?
E os deuses hindus?
Dizer que o Sagan é um analfabeto religioso e simplesmente comentar a respeito de UMA perspectiva sobre religião é muita presunção do autor. Sagan é superficial ao falar de Deus (como se essa fosse uma idéia única e compartilhada por todos que a defendem) assim como o Ronaldo é superficial ao tratar de religião e da perspectiva do Sagan a respeito dela.
E eu aposto com você. Dawkins não é o papa e sua palavra atinge poucas pessoas. Ele é uma formiguinha que incomoda alguns mas que a maioria nem conhece. Infelizmente.
Esta comparação do autor, por exemplo, eu fiz em 1999 no livro O Beijo de Juliana, e nunca ninguem me respondeu:
Isso fica evidente no ataque de Dawkins à religião (não a Deus, mas à religião mesmo), e na respectiva defesa dos McGrath. Praticamente todas as características nocivas atribuídas à religião por Dawkins, cabem ao esporte como competição e entretenimento. Troque a palavra “religião” por “futebol” sempre que ela aparecer, e terá um quadro absolutamente inalterado. Tudo o que se diz de um, vale pro outro. Gera fanáticos? Incita à violência? Explora ingênuos que acreditam em seu sistema? É capaz tanto de unir quanto de segregar grupos? Hipnotiza as massas, desviando sua atenção de problemas mais importantes? Explora dinheiro desavergonhadamente? Goza de privilégios políticos? Peraí, de que estamos falando? De futebol, ou de religião? Pois é.
Você consegue responder?
Dawkins e Sagan são superficiais no sentido de que não leram nem demonstram o menor conhecimento sobre a vasta literatura sobre a sociologia e história da religião. Também não parecem entender nada de filosofia da ciencia, nem mesmo entenderam Popper! E os estudos pós-Poperianos, então?
Assim, partindo do principio de Feynmann de que "não importa o conhecimento de um especialista, quando ele fala de outra área sua autoridade é equivalente a de um leigo" (Feymann descreveu isso com palavras mais divertidas), o que Dawkins fala sobre a sociologia e história da religião é irritantemente ingênuo, mal direcionado e irrelevante.
O que eu reclamo é apenas isso: devemos defender o ateismo usando argumentos racionais, não retorica emocional, falácias lógicas etc. Devemos defender o ateismo usando argumentos científicos.
Livros que prometem mas não fazem isso não deveriam ser escritos por verdadeiros cientistas.