"Rico fica mais rico" na USP Ribeirão

O efeito Mateus ou princípio do "rico fica mais rico", ou ainda "crescimento preferencial", denota simplesmente o fato de que as oportunidades de crescimento são em grande parte definidas pelo estado atual da pessoa: quem tem mais recursos, tem mais oportunidades. Não existe igualdade de oportunidade entre desiguais. Este fato é a razão principal que fundamenta os programas de inclusão social, compensação histórica etc.

Tais programas são polêmicos, por tratar os desiguais de modo desigual. Mas existe ainda algo pior: eles não são radicais o suficiente. Explico: os mecanismos de produção de desigualdade (a "mão invisível" produtora de leis de potência com expoentes baixos) atua de forma geométrica, ou seja, com divergência exponencial das diferenças (ou você acha que Bill Gates trabalha um bilhão de vezes mais que o comum dos mortais?). Já os programas compensatórios atuam de forma aritmética, ou seja, não resolvem lá grande coisa. Talvez isto explique o fracasso da USP em brecar seu processo de elitização (não cultural, que seria bom, mas econômica, que não é nada bom para um serviço público).

Participação de alunos de escolas públicas aumentou, mas não na proporção esperada.Mesmo assim, pró-reitora de Graduação diz que os resultados são positivos.

Fernanda Bassete, do G1: A Universidade de São Paulo (USP) não atingiu as metas de inclusão de alunos da rede pública entre os aprovados no vestibular 2007. As simulações feitas pela Pró-Reitoria de Graduação no ano passado previam 600 estudantes a mais de escolas públicas entre os convocados na primeira chamada. No entanto, segundo os dados socioeconômicos da Fuvest divulgados nesta semana, o aumento foi de apenas 304 calouros nessas condições, o que representa um crescimento de 10,1% em relação a 2006.

No ano passado, preocupada com a inserção social, a universidade lançou o Programa de Inclusão Social, o Inclusp, que entre suas medidas dá 3% de bônus nas provas da primeira e da segunda fase para os vestibulandos que cursaram o ensino médio em escolas públicas estaduais, federais ou municipais. O objetivo era aumentar a participação desses estudantes dentro de uma universidade pública. Neste ano, a Fuvest contabilizou 2.678 candidatos de escolas públicas aprovados na primeira chamada do vestibular 2007, ou 26,1% do total de ingressantes da primeira lista. Em 2006, o total de aprovados nesta condição era 2.374, ou 23,7% dos candidatos. Com base nesses dados, o aumento da participação de estudantes de escolas públicas de um ano para o outro foi de 10,1%. Num primeiro momento, a professora Selma Garrido Pimenta, pró-reitora de Graduação da USP, disse em entrevista ao G1 por telefone, que o aumento de alunos de escolas públicas no vestibular de 2007 com relação ao de 2006 era de 20%. O equívoco aconteceu na base de comparação dos dados: os números de 2006 que a pró-reitora usou incluíam os candidatos treineiros, enquanto os números de 2007 referem-se somente aos convocados com ensino médio completo. A Fuvest enviou ao G1 nesta sexta-feira (2) uma nota com a correção dos dados.

Resultados positivos

Mesmo sem atingir as metas, o Inclusp alcançou resultados positivos. O número de alunos de escolas públicas aprovados no curso de medicina, por exemplo, dobrou neste ano com relação ao ano passado (subiu de 22 para 46 estudantes). Leia aqui. Nessa sexta-feira, em uma nova entrevista, a professora Selma confirmou o erro na informação, mas afirmou que mesmo assim os primeiros resultados do Inclusp são positivos. "O processo ainda não está encerrado. Os números finais só serão conhecidos após a quarta chamada de aprovados no vestibular. O programa [Inclusp] continua em pé com os seus objetivos. Mesmo sendo 10% de aumento e não 20% como imaginávamos, os números são bons e o programa está atingindo os seus objetivos". Segundo a professora Selma, é a primeira vez que o Inclusp foi colocado em prática e, por isso, ainda é cedo para tirar conclusões. "O otimismo continua. Nas carreiras mais concorridas como medicina, jornalismo e direito tivemos um aumento expressivo de alunos de escolas públicas aprovados. De um modo geral, houve ganhos", afirmou a pró-reitora. Questionada se o Inclusp deve alcançar os 600 alunos a mais na USP até o término da quarta chamada de alunos aprovados, prevista para ser divulgada no fim deste mês pela Fuvest, dessa vez a professora Selma prefere não arriscar. "Não sei se vamos atingir a meta de 600 alunos a mais, mas o fato é que demos uma empurrada e já alcançamos os primeiros resultados positivos", afirmou.


Bom, aqui em Ribeirão, a Folha noticiou que a percentagem de calouros vindos de escolas particulares subiu de 52 para 56% neste ano!

Comentários

Kynismós! disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Kynismós! disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Kynismós! disse…
Não entendi essa parte:

"não cultural, que seria bom, mas econômica, que não é nada bom para um serviço público."

principalmente a parte do cultural.

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Falando sério, se esse pessoal incluso não dispuser de assistência especial (reforço mesmo) tudo isso será igual a chover no molhado.

E isso "carreiras mais concorridas como medicina, jornalismo e direito", com exceção à medicina, seria motivo de orgulho ou de vergonha? Eh cultura essa nossa viu!
Osame Kinouchi disse…
O objetivo da universidade é formar uma elite intelectual (afinal, nem todo mundo tem vocação pra isso). Elites intelectuais não são problema (assim como elites esportivas ou elites artisticas). O problema é a elite econômica, pois isso implica muito mais diretamente em distribuição desigual de poder do que no caso das outras elites.

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