WWW galáctica


Há alguns anos atrás, o site Edge.org perguntou a 120 cientistas sobre idéias que eles acreditavam mas não tinham como provar. Se você está interessado em ler as respostas, clique aqui. Mas este post não é sobre isso, mas sim, claro (afinal isto é um blog pessoal!), sobre coisas que acredito mas que não tenho como provar.

Acredito, ou pelo menos chuto, que o processo de colonização galática corresponde a um processo de ramificação crítico, ou seja, o cluster (ou rede) de civilizações em nossa galáxia não cresce exponencialmente (difusão simples) mas sim na forma de uma lei de potência. Em particular, acho que essa difusão anômala cria um padrão fractal de áreas visitadas, com bolhas vazias de todos os tamanhos. Assim, explico o paradoxo de Fermi ("Onde está todo mundo?") supondo que, dado que ainda não fomos colonizados - me desculpem os X-filers - isso se deve ao fato de que estamos dentro de uma dessas grandes bolhas vazias. Uma conclusão pragmática disso tudo é que os esforços do programa SETI no exame de civilizações em estrelas vizinhas está fadado ao fracasso: se estas fossem habitadas, "eles" já teriam chegado aqui!

Entre os motivos que me levam a acreditar que, mesmo assim, exista uma civilização galática (ou pelo menos uma WWW galáctica) está um certo otimismo de base (que os meus amigos sempre criticam), ou seja, acho deprimente a conclusão de que estamos sozinhos no Universo (ou de que todas - lembre-se, todas!) as Biosferas inteligentes estão fadadas à extinção. Mas tenho alguns outros argumentos na manga. Infelizmente ele se baseia em outro resultado que (ainda) não posso provar.

Alexandre Martinez e eu, há anos, acreditamos que estratégias de exploração ótimas (conhecidas na literatura como estratégias de forrageamento ótimo) se situam na borda de uma transição vítrea. Exemplificamos isso com nosso trabalho sobre a caminhada do turista estocástico, onde pontos espalhados em um espaço d-dimensional são visitados por um "turista" que pula de sítio para sítio com probabilidade proporcional a exp(-beta E), onde E é uma função custo associada à distância a ser percorrida, valor do sítio a ser alcançado etc.

Roberto da Silva, prof. da UFRGS, e Juliana e Thyago, que se formaram aqui no DFM-FFCLRP-USS, estão estudando este problema nas suas horas de folga. Para todos os efeitos (ou seja, caso essa pesquisa viesse a ser financiada por orgãos de fomento) o tema do trabalho é sobre um modelo interessante de difusão anômala, com potencial aplicação no estudo da disseminação de formigueiros e cupinzeiros no interior do Estado de São Paulo (atenção, FAPESP!). Mas, na verdade, a motivação é um pouco mais ambiciosa: queremos mostrar que, sim, a exploração ótima se dá em um ponto de transição de fase (ou pelo menos transição vítrea), onde os custos são minimizados sem que o caminhante fique preso em um setor do espaço de fase (ou seja, o sistema é marginalmente ergódico).

Se isto for verdade, e supondo que os ETs são inteligentes o suficiente para aplicar a estratégia de colonização ótima (claro!), então teriamos um argumento para defender a exploração anômala e fractal da galáxia. QCD. Paradoxo de Fermi resolvido e quem sabe um paper no Physical Review Letter ou pelo menos na Astrobiology (fator de impacto 2.225!) para todo mundo.

Enquanto isso, ficamos na expectativa. Registro aqui um artigo do NYT sobre o SETI, que saiu hoje, postando alguns extratos interessantes.


Trying to Meet the Neighbors


By DAVE ITZKOFF
Published: March 11, 2007


Is there anybody out there? Give the question some thought before you answer, because it’s more perilous than it seems. Deny the possibility of a universe populated with intelligent extraterrestrials that can speak and mate and battle with humanity, and the science-fiction canon collapses; more than a century’s worth of novels, from “The War of the Worlds” to “Old Man’s War,” would find their speculative foundations swept out from underneath them. But admit to a sincere belief in the remotest potential for alien life, and prepare to be fitted for a straitjacket; a recent survey conducted by Baylor University found that more Americans believe in ancient civilizations like the lost continent of Atlantis than in U.F.O.’s.
(...)
Surprisingly, the science-fiction community (which knows a thing or two about being misunderstood and dismissed) is not unequivocally supportive of SETI’s work. In a 2003 lecture entitled “Aliens Cause Global Warming,” Michael Crichton declared, “SETI is unquestionably a religion.” And authors free of Crichton’s political baggage do not cast SETI’s mission in particularly upbeat terms, either: in his short story “The Puzzle,” the Serbian author Zoran Zivkovic writes of a scientist pursuing a SETI-like experiment, whose “gloomy exultation” can end only with irrefutable evidence of extraterrestrial intelligence — only “with contact made would he be able to say that his life’s work had meaning.”


(...)


Using massive radio telescopes, SETI hopes to detect electromagnetic transmissions coming from these potential neighborhoods. In the past decade, Shostak estimates, the institute has looked at 750 star systems, but within the next 25 years it should be able to scan one million to two million more. And he is fond of betting his interrogators a cup of Starbucks that the question of whether mankind is alone in the universe will be settled by the year 2025.


(...)


Robyn Asimov, the daughter of the science-fiction master Isaac Asimov, has become a friend of the SETI Institute despite her upbringing: Dad was more of a robot guy than an alien guy, and agnostic on the subject of extraterrestrial intelligence, except for one instance when father and daughter mistook the Goodyear blimp for a U.F.O. (“He nearly had a heart attack,” she told me in a telephone interview. “He thought he saw his career going down the drain.”)
In our conversation, she explained to me why SETI research is still valuable, even if scientists like Shostak never find any Daleks, Vulcans or Wookiees. “My father knew he wouldn’t live to see space travel as he wrote about it, or robots acting in the way he wrote about them, and he was fine with that,” Asimov said. “His major thrust, and I think Seth’s and SETI’s as well, is to get people interested in science, and doing something about it, and then handing the baton over to the next generation. It’s an almost egoless outlook, because the intellectual curiosity is what takes priority.”




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