Este blog realmente funciona!
O Prof. Cintra me comunica que menos de um dia após o post sobre seu livro, já recebeu o primeiro pedido. Ou seja, este blog realmente funciona, acho! (Estou mantendo o post sobre o livro do Prof. Cintra por cima de todos, por alguns dias, logo este está com a data errada...). Se você conhecer uma outra maneira de fazer um post boiar por cima dos outros, me comunique, ok?
Sendo assim, vou postar aqui novamente minha entrevista de 16/05/2006 com a Maria Cristina Abdalla do IFT sobre o seu livro O Discreto Charme das Partículas Elementares, pois ela havia sido perdida na outra encarnação do SEMCIÊNCIA. Notem que o livro pode ser encontrado agora pelo preço de R$ 74,16 na Best Books.
SEMCIÊNCIA: Você me contou que este livro tem uma longa história. Você poderia me contar uma "Breve História" deste livro?
MCA: Em agosto de 1996, depois de 4 anos no CERN, em Genebra, Suíça, voltei IFT com a idéia de fazer divulgação. Tinha participado do movimento Portas Abertas no CERN. Trouxe material didático da imprensa oficial do CERN, preparei as transparências que levariam esse mundo das partículas elementares ao público brasileiro. O primeiro convite foi do Rotary Club, em abril de 1997, e falei sobre o Discreto charme das partículas elementares. No ano seguinte, falei aos meus conterrâneos, na sede cultural da fábrica de sabão Ypê, em Amparo (SP). Depois vieram convites de alguns colégios e, assim, meu material foi se aperfeiçoando.
Em abril de 1999, fiz o seminário de abertura do evento Encontro ao Entardecer, promovido pelo IFT onde falei sobre o discreto charme das partículas elementares. No ano seguinte, esse seminário abriu novamente o evento e um desdobramento natural do assunto deu-se em abril de 2001, quando falei sobre Os primeiros três minutos do universo. São esses dois temas que constituem este livro, que recebeu leituras importantes e apoio técnico de primeira qualidade de outras fontes.
Em 2002 escrevi o livro sobre a vida e obra de Niels Bohr pela editora Odysseus a convite do Marcelo Gleiser e o livro teve uma ótima receptividade. Está esgotado. Na verdade eu comecei a escrever o livro sobre as partículas antes do livro do Bohr. Depois do livro do Bohr eu voltei ao meu projeto e levei a várias editoras que não deram resposta. Até que eu procurei a editora da UNESP e simultaneamente fiz um pedido de auxílio à FAPESP e ao pró-reitor de pesquisa da unesp. Os dois apoios foram positivos e a editora levou o projeto a diante e o livro acabou saindo em 2006.
SEMCIÊNCIA: Qual o público que você pretende atingir?
MCA: O público pretendido é amplo, desde um profissional liberal que goste de física até um aluno de licenciatura de física. Minha idéia é trazer a idéia da física moderna ao alcance dos que não tiveram essa oportunidade. Quando eu dava seminários para leigos a grande maioria me procurava e perguntava onde pode ler sobre aquilo que falei. Eu não tinha muitas referências para indicar. Assim surgiu a idéia de escrever sobre aquilo que eu ensina nos seminários, mas como eu tentei escrever com cuidado e muito detalhes o livro acabou se mostrando ideal seria capacitar professores de física. E o conteúdo do livro tem condição de chegar ao ensino médio. Há muitos projetos nesse sentido.
SEMCIÊNCIA: Existem livros similares no mercado brasileiro?
MCA: Não que eu conheça.
SEMCIÊNCIA: Fale um pouco sobre as dificuldades de escrever livros de divulgação científica no Brasil.
MCA: Em primeiro lugar as editoras são restritas, na temos esse hábito no Brasil. Os dois livros que publiquei antes eram de coleção, o que ajuda; a verba já existe e o projeto já foi aprovado em alguma instância. O terceiro foi uma iniciativa minha e por esse motivo demorou muito mais. Demorou muito mesmo, mas valeu a pena.
SEMCIÊNCIA: Como foi a recepção do livro na Bienal do Livro em São Paulo?
MCA: Foi boa. A editora me proporcionou um lançamento especial com uma pequena palestra inicial e eu tive a oportunidade de contar vários detalhes sobre a obra.
SEMCIÊNCIA: O preço do livro é um pouco salgado para os padrões de divulgação científica brasileiros. Isso se deve à qualidade do papel, das ilustrações etc. Minha impressão é que é um "livro para se dar de presente àquele sobrinho(a) vocacionado para ciência". Ou um livro com a qualidade dos livros de "Arte" ou "Culinária". Você está querendo explorar um novo nicho para livros de divulgação?
MCA: Não foi essa a minha intenção. Eu queria chamar a atenção das pessoas para o mundo das partículas e eu acho que consegui. Não há um só rabisco ou palavra do livro que não tenha sido muito bem pensado. Eu queria chamar a atenção das pessoas para esse esforço enorme da comunidade de físicos no sentido de entender a estrutura da matéria. O gigantismo das colaborações, o esforço hercúleo de gerações, toda essa investida no sentido de entender o mundo (em última análise o universo) em que vivemos deveriam estar disponíveis a todos e em linguagem fácil. Esse foi o meu esforço.
SEMCIÊNCIA: Fale um pouco das ilustrações do livro, em particular das partículas sendo retratadas como "monstrinhos". Vc me falou que grande parte dos detalhes possuem motivação física. Explique.
MCA: Em primeiro lugar quisemos evitas as “bolinhas” para não dar a falsa impressão de que no fundo as partículas são todas iguais. O caráter tensorial das funções de onda que caracterizam as partículas é diferente de uma para outra. As partículas desenhadas têm personalidade; os bósons de gauge, por exemplo, responsáveis pelas interações fundamentais entre as partículas, possuem línguas, caudas, “algo que gruda, agarra, chicoteia, que produz interação. Já para os léptons que são relativamente leves, usou-se elementos que transmitissem leveza como asas.
SEMCIÊNCIA: Soube que você não irá ganhar direitos autorais, ou melhor, os direitos lhe foram dados em forma de exemplares do livro. É verdade? Você ainda tem livros para vender?
MCA: Sim é verdade. Recebi meus direitos autorais em livros e desta forma pude disponibilizar alguns livros para profissionais da área de ensino que são formadores e podem ajudar a capacitar professores do ensino médio. A SBF tem ajudado a distribuir os livros para os profissionais em ensino cadastrados na sociedade. Ainda temos muitos livros pra vender.
SEMCIÊNCIA: Maria Cristina, você me falou de sua paixão pela escrita. Mas imagine que você escreva um livro não de ciência ou divulgação científica, mas sim de Literatura convencional ou, por exemplo, de Ficção Científica. Onde você colocaria isso no seu Curriculo Lattes? Você acha que contaria para alguma coisa? Deveria contar?
MCA: Em primeiro lugar acho que um livro de divulgação científica deveria contar porque um profissional que tenha feito pesquisa durante um bom tempo tem grande chance de escrever um texto de divulgação de boa qualidade. É muito difícil de acreditar que alguém que não tenha sido um pesquisador possa produzir uma obra de divulgação científica de qualidade. No entanto, para escrever um bom livro de ficção científica você não precisa ser um pesquisador. Não tenho certeza se essa atividade deveria contar num currículo tipo CV Lattes.
SEMCIÊNCIA: Quando lhe lembram do número de papers que você poderia ter escrito usando o tempo e esforço gasto na elaboração deste livro, o que você responde?
MCA: Até agora ninguém me perguntou isso, mas eu acho que esse viés (o de escreer) é apenas um complemento à minha carreira. Como você deve saber eu já escrevi livros científicos; um deles, com mais de 700 páginas, chegou à segunda edição fora do Brasil e para escrever aquele livro (e depois a segunda edição) eu deixei de produzir outros tantos papers. Isso não me aborrece nem me preocupa porque são atividades complementares (como na mecânica quântica...). A universidade tem como função gerar, disseminar e manter o conhecimento. Como geradora temos que produzir papers, para disseminar o conhecimento gerado a gente dá aula e para manter produzem-se livros. É tudo uma coisa só ...pena que o CNPq não saiba disso....
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