Deus joga dados?


OK, OK, eu sei que o livro vai demorar ainda alguns meses para ficar pronto, mas estou colocando aqui um de seus capítulos (ver capítulo15.pdf) para eventualmente receber algum feedback. Abaixo, coloco o sumário provisório do livro, mais um trecho para quem estiver com preguiça de ir ler o pdf.

A proposta deste livro, a Teologia do Acaso (TA), pode ser resumida assim:
· Existem inúmeros pontos de contato entre a idéia científica de Acaso e a idéia religiosa de Deus.
· Esses pontos refletem não uma coincidência superficial, mas uma identidade de natureza filosófica profunda.
· Todo ser humano precisa se relacionar com o Deus-Acaso: sendo indiferente a ele (agnosticismo), temendo-o e tentando controlá-lo (religiões mágicas, tecnologia), tentando compreendê-lo (filosofia e ciência), celebrando nossa incrível “sorte” por estarmos vivos em um universo belo e complexo (adoração e louvor místicos), tentando alinhar nossas ações com uma idéia de Deus que supere a idéia de Acaso: uma vontade divina de justiça e bem estar para os homens (religiões éticas).
· Esta última posição, porém, não supera realmente a idéia de Deus-Acaso, pois toda a evidência dessa Vontade benévola se baseia em uma interpretação de padrão, em uma filtragem, que mantém na memória os eventos do Acaso que nos favoreceram (individual ou coletivamente) e minimiza ou reinterpreta os eventos desfavoráveis.
· Existe porém uma posição teológica alternativa: aprofundar a idéia de que Deus é o Acaso interpretado e personalizado, e que a espiritualidade reflete nossa atitude e relacionamento individual com o Acaso, sendo a Religião, entre outras coisas, uma formalização de nossa atitude coletiva frente a Ele.

O que ganharíamos com tal mudança de perspectiva? Listo algumas das possíveis vantagens da TA:
· Ela lança uma nova luz sobre inúmeros textos bíblicos, desde o uso do jogo de dados para a manifestação da vontade divina até as lamentações de Jó ao formular o problema do mal, ou mesmo a formulação de Jesus: “Ele manda a chuva igualmente sobre justos e injustos”.
· Ela resolve o problema do mal sem apelar para uma “Queda da Natureza” que degrada seu status como jardim a ser preservado pela humanidade, idéia tão necessária para os dias de hoje.
· O problema do mal é resolvido também sem culpabilizar o ser humano, uma solução extremamente cruel para quem sofre. Tal solução é popular em certos circulos espiritualistas onde se culpa a própria vítima por sua desgraça (como testemunha o livro de Jó). Apenas o mal que é fruto direto da ação do homem (por exemplo, a injustiça social) é sua responsabilidade.
· Ela resolve, ou pelo menos se mostrar um caminho promissor para a solução, o dilema entre a visão religiosa e a visão científica do Universo. Na Teologia do Acaso, enfatiza-se a convergência, não a divergência entre estas visões de mundo.Ela até mesmo promove um possível diálogo com os ateus: a afirmação básica do ateísmo é a de que não existe Deus, apenas Acaso. A visão da TA é a de que Deus é o Acaso interpretado, o Acaso é uma força todo-poderosa (um Deus) que rege o Universo.


Foto: Do interessante tópico da Wikipedia Roda da Fortuna.

Comentários

Anônimo disse…
Osame,

Já ouviu falar da dualidade do mito de TYCHE (que distribui a fortuna aleatoriamente) e NEMESIS (que balanceia as benesses recebidas)?

R.
Osame Kinouchi disse…
Sim, estava lendo alguma coisa sobre Tyche e Fortuna. Acho que preciso pesquisar mais sobre isso.

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