A força relativa da Ciência e da Religião


 Comte não era bobo por ter dado vestimenta religiosa ao seu secularismo, chamando-o de Religião da Humanidade. Como bom sociólogo,  ele sabia que a religião possui grande força para fomentar o compromisso individual, a vida comunitária e a ação política. Acho que o Humanismo Secular vai enveredar pelo mesmo caminho, se quiser sobreviver. Engraçado que Isaac Asimov, na trilogia Fundação, coloca isso (uma religião chamada "Cientismo") como uma estratégia possível para a comunidade científica sobreviver em uma nova Idade Média.

Na sociologia, Pareto contribuiu para a elevação desta disciplina ao estatuto de ciência. Sua recusa em atribuir um caráter utilitário à ciência, mas antes apontar para sua busca pela verdade independentemente de sua utilidade, o faz distinguir como objeto da sociologia as ações não-lógicas diferentemente do objeto da economia como sendo as ações lógicas.

A utilidade é o objeto das ações, enquanto que o da ciência é a verdade ao que Pareto se propõe a estudar de forma lógica ações não-lógicas, que, segundo ele, são as mais comuns entre os seres humanos. O homem para VilfredoPareto não é um ser racional, mas um ser que raciocina tão somente. Frequentemente este homem tenta atribuir justificativas pretensamente lógicas para suas ações ilógicas deixando-se levar pelos sentimentos.

A relação entre ciência e ação para Pareto se dá diretamente com as ações lógicas, uma vez que estas, ao se definirem pela coincidência entre a relação objetiva e subjetiva entre meios e fins (tal relação é verdadeira tanto objetivamente, constatada pelos fatos, quanto subjetivamente, presente na consciência humana, que conhece os fatos), está pautada pelo conhecimento das regularidades entre uma causa X e um efeito Y. No entanto, a ciência é limitada, ela conhece parte dos fatos e está em constante desenvolvimento, por isso, as ações baseadas nos conhecimentos produzidos por ela serem raras sendo mais frequentes as ações não-lógicas, que não conhecem a verdade dos fatos, mas que são baseadas nas intuições e emoções dos indivíduos e grupos.

Há, mesmo assim, probabilidades de sucesso nestas ações: aqueles que agem motivados por um ideal podem produzir efeitos objetivos na realidade, ainda que no curso de sua ação tenham que modificá-la para adaptá-la às circunstâncias até então desconhecidas.

É preciso, no entanto, ressaltar que a ciência não pode resolver os problemas impostos pela ação. Aquela não pode indicar quais os melhores fins para esta, pode somente indicar os meios mais eficazes para atingí-los uma vez escolhidos. A ciência, portanto, não se propõe a efetuar juízos de valor a respeito das ações individuais ou da organização social, não poderá solucionar seus problemas. Poderá sim criticá-los enquanto não-lógicos, ou seja, pautados numa relação falsa, não objetiva, entre meios e fins.




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