Perturbando a Blogosfera


Recomendo o livro Perturbando o Universo, de Freeman Dyson, para quem quiser divulgação científica com qualidade literária (aqui por R$ 8,00!).

Quando você faz um hiperlink para outros blogs ou fontes em seu post, você está participando do processo "natural" de crescimento da blogosfera. Esse processo de auto-organização leva a uma estrutura de rede complexa em forma de lei de potência (a tal long tail) com um dado expoente que descreve seu formato - a "concentração de renda" de links - expoente que pretendo descobrir se depende do tempo.

Como apresentei no EWCLiPo, outras práticas correntes na blogosfera como fazer listas top 10 ou top 100 influenciam a curva Autoridade versus Rank (Zipf plot) dos blogs, por exemplo, multiplicando por um fator 10 a autoridade dos blogs que apareceram na lista. Ou seja, se o processo normal de auto-organização é baseado na lei de Mateus ("O rico em links fica mais rico"), a lista produz um efeito Super Mateus "O Top 100 Technorati fica mais rico ainda!".

Existem outras práticas que perturbam a distribuição de links "natural" da blogosfera? Bom, como a blogosfera é uma rede tecnológica, é dificil dizer o que é natural e o que não é, mas uso essa palavra com cuidado no sentindo de distinguir ações intencionais das não intencionais (por exemplo, um ataque intencional na rede definida pela internet visando sua desconexão com o menor número de links ou nodos detonados).

Três tipos de sites podem potencialmente "perturbar a blogosfera" científica (talvez vocês conheçam outros): 

1. Metablogs que contenham uma lista extensa de links de blogs científicos, tais como o Blogs de Ciência e o Anel de Blogs Científicos: eles fazem shortcuts entre blogs, são superhubs, podem talvez fazer com que as pessoas deixem de cuidar adequadamente de seus blogrolls. Isso seria péssimo, pois é importante para a blogosfera a formação dessas comunidades de blogs fortemente linkados. O objetivo do Blogs de Ciência e do ABC é melhorar o acesso do leitor aos blogs de ciência, especialmente aos pequenos e desconhecidos mas que podem ter potencial de crescimento. Por outro lado, listas extensas de blogs científicos poderiam ser úteis pois o blogueiro poderia deixar no seu blogroll apenas os blogs que ele realmente valoriza, ou seja, blogrolls mais enxutos.

2. Condomínios de blogs como o Science Blogs e o Lablogatórios (que em breve carregará a marca Science Blogs Brazil). O Roda da Ciência é um condomínio informal, acho, funcionando como um pequeno hub para posts com temas mensais. Acho que aqui o objetivo é agregar blogs de qualidade na sua peridiocidade, autoridade científica e qualidade de escrita. Nesse sentido, acho que os condomínios se tornam as listas efetivas dos Top Ten ou Top 20 blogs e podem gerar o tal efeito Super Mateus. Evidência a favor disso é o fato de que grande parte dos concorrentes ao Best Blogs Brazil na categoria Ciência pertenciam ao Lablogatórios.

3. Existem metablogs menores, por exemplo especializados apenas em ambientalismo ou geociências. Ainda não sei se eles teriam algum efeito estatístico na blogosfera científica.

É claro que "Perturbar a Blogosfera", ou seja, sua distribuição de autoridade em forma de lei de potência (na verdade, de Zipf-Mandelbrot) não é algo ruim em si, apenas deixa o fenômeno da blogosfera mais complicado. Essas diversas estruturas e fatores hierárquicos deverão então ser levados em conta em um estudo mais aprofundado da blogosfera (científica ou não) no Brasil e no exterior. E como uma recente discussão no Polegar Opositor revelou, existem muitas discussões mais interessantes sobre o blogar científicos do que ficar fazendo estatística de links (basicamente nosso trabalho lá no ABC). Por exemplo, como se profissionalizar, como transformar seu blog em um livro e coisas desse tipo.

Lá no ABC nossa intenção é outra. Gostariamos que responder à algumas perguntas:

  1. Qual o tamanho relativo da blogosfera científica brasileira em relação à de Portugal?
  2. Qual a propoção relativa de blogs nas áreas cobertas: Física, Astronomia, Biologia, Química, Matemática etc...
  3. Que áreas ainda não foram cobertas?
  4. Para cada blog científico quantos blogs "pseudocientíficos" existem?
  5. A blogosfera científica está em crescimento? A que taxa? Já demonstra sinais de saturação?
  6. Qual a vida média de um blog científico?
  7. Quantos blogs são feitos por cientistas profissionais? Por pós-docs? Por estudantes? etc
  8. Etc... 
É por isso que precisamos enfatizar os dados quantitativos: números de links, autoridade, fator h etc. As perguntas são outras, perguntas que só podem ser respondidas de forma estatística.

PS: Algumas coisas para referências: aparentemente a Autoridade do BlogBlogs é idêntica à do Technorati, a menos de detalhes de filtragem de links.

Comentários

Anônimo disse…
Oi Osame,

Só tenho dúvida numa coisa. O que define um blog ser científico ou pseudo-científico? Uma análise empírica?
Unknown disse…
Eu sabia que alguem ia falar sobre isso. Na verdade, debatemos isso no EWCLiPo. Vitor, voce viu que usei parentesis na palavra pseudocientificos? É porque eu sei que o problema da demarcaçao Popperiana ciencia-pseudociencia ficou nao resolvido.

Por enquanto, eu usaria o seguinte criterio: pseudocientifica é qualquer crença que:
1. Afirme acumular abundante evidencias cientificas a seu favor, quando nao é o caso (espiritismo);
2. Se baseie em uma teoria conspiratoria onde a comunidade cientifica é vista como ativamente escondendo da populaçao certas revelacoes (exemplo: mitologia Arquivo X, Apolo 11 era falsa, fenomenos paranormais)
3. Seja uma crença baseada apenas em evidencias empiricas tipo "tomei remedio homeopatico e funcionou!", sem fundamentaçao teórica (fisiologia humana).
4. Uma crença que seja incompativel com teorias cientificas bem aceitas, de modo que aceitar essa crença significa renunciar àquelas crenças cientificas, sem que haja argumentos para tanto: teoria da terra oca, criacionismo.

O item 1 é meio circular, pois nao defini o que é uma evidencia cientifica... posso fazer isso depois.

Agora, o cara pode ter crenças privadas nao cientificas (eu tenho um monte delas! - por exemplo, acho que quase toda a culinaria nao é cientifica, nao passou por double blind control, mas nem por isso dispenso os livros de culinaria...), mas o que ele nao pode fazer é vende-las como se fossem cientificas!

Seria interessante fazer uma lista (acho que tem uma na Wikipedia) onde os blogueiros de ciencia votassem sobre o que consideram como nao cientificas, e em que grau...
Anônimo disse…
Concordo com os teus critéros mas não acredito que as pessoas tem capacidade para julgar o que é ciência e o que não é.

A impressão que eu tenho é o conceito de blog (posts com opinião pessoal/experiência) se choca com o conceito de ciência (apresentar evidências científicas).

Sei lah... muito confuso esse tema :)
Unknown disse…
Vitor, acho que o blog opinativo de ciencia está para o paper assim como a coluna jornalistica está para a "reportagem imparcial".

É a sua visao por demais idealizada, por demais positivista de ciencia, que os cientistas na pratica nao vivem, que está inadequada neste contexto.

Ou seja, nao é o criterio "objetividade" que vai separar ciencia de pseudociencia... Existem outros criterios mais adequados (consiliencia com as outras teorias cientificas, por exemplo).

Argumento final: todos os grandes livros de divulgaçao cientifica comunicam uma profunda visao filosofica (a filosofia nao pode ser reduzida a ciencia!): "O Acaso e a Necessidade", de Monod, "O gene egoista", de Dawkins, Perturbando o Universo, de Dyson, sao livros opinativos, filosoficos, até mesmo autobiograficos. Nunca passariam em um processo de peer review! Nao é que a ciencia ali esteja errada, mas sim que eles vao alem da ciencia, eles vao alem das evidencias, formulando uma visao de mundo - toda visao de mundo vai alem das evidencias.

Talvez seja por isso que alguns blogueiros estejam falando em publicar seu blog em formato livro (como Marcelo Leite vai fazer, e reinaldo Lopes tambem): o livro transmite sua visao pessoal da ciencia, nao os press release da ciencia...

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