Reinaldo Lopes continua sua campanha heróica e mesopotâmica, como diria o Zé Simão, contra os Dom Quixotes do Ateísmo Radical (se sua luta contra os moinhos de vento da religião fosse baseada em análises antropológicas e sociológicas sérias, eu as respeitaria, mas como são apenas baseadas em "medinhos" de intelectual em torre de marfim, não posso respeitá-las). Neste sábado publicou no seu blog
Visões da Vida:
Imagine que você é um cientista de renome, autor de um dos melhores livros didáticos de biologia do mundo. Você dedicou boa parte da carreira a explicar a teoria da evolução para um público amplo, com grande sucesso. Seu testemunho no tribunal foi decisivo para impedir que a chamada hipótese do Design Inteligente, uma forma de criacionismo com roupagem disfarçada, ganhasse a chance de ser ensinada como ciência nas escolas públicas. Diante desse currículo quase impecável, o que os seus colegas fazem? Condecoram você? Pedem que o governo o agracie com uma bolsa vitalícia por serviços prestados à ciência? Nada disso. Ultimamente, eles têm preferido dizer que você é igualzinho aos criacionistas.
Qualquer semelhança com a vida real não é mera coincidência, nobre leitor. A historinha do parágrafo acima espelha à perfeição o que tem acontecido com o biólogo americano Kenneth Miller, da Universidade Brown. Sob quase todos os aspectos, Ken Miller é um paladino da compreensão pública da teoria da evolução e um inimigo feroz da pseudociência. Mas, para alguns biólogos evolutivos proeminentes, como Jerry Coyne, da Universidade de Chicago, e P.Z. Myers, um dos cientistas-blogueiros mais populares do mundo, Miller tem o defeito imperdoável de ser católico e acreditar que não existe incompatibilidade essencial entre a teoria da evolução e a fé em Deus.
Enfatizo aqui: tenho ótimos amigos ateus e religiosos, e não quero perder nenhum deles. Mas, em termos de estratégia nessa Guerra Cultural, eu acredito firmemente que Dawkins e amigos estão equivocados e irão produzir em breve uma grande rejeição cultural (ainda mais?) da Ciência.
Afinal, como dizem quase todo mundo, a Tecnologia destruiu o Ambiente e armou a arapuca do Terrorismo Nuclear (terrorista religioso armado de estilingue não faz mal a ninguém - com excessão de Davi contra Golias).
Agora a Ciência (desde o Acaso e a Necessidade de Monod, na verdade) escancara a quatro ventos que o valores (por exemplo os Direitos Humanos) não tem fundamentos - OK, já sabiamos disso - e que um Hitler bem sucedido é o objetivo da evolução (pois seu grupo-comunidade teria maior fitness - maior espaço vital e mais descendentes) enquanto que os judeus, sorry, tinham menos fitness (pois se tivessem mais fitness, teriam adotado a filosofia da Vontade de Nietzsche e teriam sobrevivido melhor aos campos de concentração...).
Assim, fico aqui de artilheiro ao lado de Reinaldo Lopes, nessa estúpida Guerra cultural onde as pessoas que deveriam estar juntas não estão, e o fogo amigo está matando muita gente boa...
Lembremos também que nossas posições (Reinaldo e eu) são bastante diferentes: ele é um católico progressista com teologia liberal, eu sou um autor de ficção-científica que acha que Teologia fornece ótimos roteiros para a FC (vide VALIS (1981), The Divine Invasion (1981), The Transmigration of Timothy Archer (1982) de Philip K. Dick). Ou seja, eu apenas acho que cientista quando fica rigorista e pede o bom humor e a autocrítica filosófica, é porque está precisando de uma dose de Freeman Dyson e talvez umas cervejas da Cervejaria Colorado de Ribeirão Preto.
PS: Reinaldo, acho que o conceito de "fé" está mais relacionado ao conceito jurídico de "confiança" ("dou fé", etc) e no sentido do relacionamento familiar (os amantes tem fé um no outro, se entregam um ao outro sem reservas - Amar a Deus de todo coração, de toda alma etc parece ser um ato erótico - e isso pode ser observado tanto na poesia mística como na moderna música Gospel).
Assim, discordo do seu conceito cognitivo (ou melhor, gnóstico) de fé como intuição de uma verdade profunda. Sei que os cientistas possuem esse tipo de fé quando perseguem uma linha de pesquisa mesmo quando ela ainda não deu resultados - é uma "aposta de fé" em que a idéia é promissora, mas não me parece ser o uso mais adequado quando você cita a Bíblia: o Jesus histórico lembra mais um budista anarquista Mahayana, não um budista gnóstico Theravada.
Comentários
Valeu pelo apoio de novo, hehehe... heróica e mesopotâmica indeed. Quanto ao conceito de fé, de fato eu não havia pensando nas implicações que o senhor cita, mas gosto muito em especial do conceito como análogo ao amor de pai e filho e de esposo e esposa. Metáfora, aliás, extremamente comum nos profetas do Antigo Testamento. Abraço!