Dúvidas sobre o reducionismo


(Inspirado pelos artigos do Ariel Caticha)



Eu tenho uma listinha (incompleta) de termos que possuem uma ordem ascendente de abstração que me fazem duvidar da afirmação que a Física é materialista (no sentido clássico da palavra). Acho que o único termo que possui análogos à características clássicas como impenetrabilidade da matéria são os férmions, via Princípio de Pauli. Já os bósons, com seus condensados de Bose-Einstein, são uns caras bem esquisitos (OK, os férmions são quanticamente esquisitos também). Minha lista ou escada é:

Consciência
Significado
Informação
Entropia
Probabilidade
Temperatura
Energia
Bósons
Férmions

Energia é um conceito bem mais abstrato do que as pessoas imaginam, acho que já comentei isso aqui. As pessoas pensam em energia como se fosse um fluido (talvez composto por “partículas de energia”) que se transmite de um corpo a outro, o velho conceito de calórico do século XVIII ressuscitado pela Nova Era. Mas energia, em Física, é um conceito muito abstrato: partículas possuem energia cinética e sistemas de partículas podem possuir energia potencial (que é uma propriedade sistêmica), ou seja, energia é uma propriedade, não é feita de partículas de energia.


Temperatura é mais abstrata no sentido de ser uma propriedade estatística, relacionada com a energia cinética média de partículas medida no referencial de centro de massa das mesmas. Até hoje existem controvérsias sobre como a temperatura se transforma mudando-se o referencial na relatividade restrita...


Acho que a partir daí todos os termos incluem conceitos como probabilidade e inferência estatística. E daí não fica claro se esses andares representam níveis de emergência, realidades que seriam redutíveis aos níveis de baixo. Pois afinal, Bayesianamente, probabilidades são definidas em termos de crenças racionais. Como diz Ariel Caticha:

(...) the objective Bayesian view considers the theory of probability as an extension of logic. It is said then that a probability measures a degree of rational belief. It is assumed that the objective Bayesian has thought so long and hard about how probabilities are assigned that no further reasoning will induce a revision of beliefs except when confronted with new information. In an ideal situation two di¤erent individuals will, on the basis of the same information, assign the same probabilities.

Me parece então que para se definir probabilidade precisamos de agentes racionais capazes de manter crenças, mesmo sem consciência, sejam eles animais, vegetais, bactérias espertas ou autômatos inteligentes, ou seja, processadores de informação. Wiener dizia que termostatos possuem crenças tipo “está muito frio aqui”, “está muito quente aqui” e “está bom aqui”... Mas então, parece que o degrau “Probabilidade” depende dos andares de cima, de modo que minha hierarquia de abstrações não parece muito boa.
Subindo a escadinha, encontramos conceitos cada vez mais abstratos, muitos deles sem uma definição clara mas que não podem ser desprezados. Acima de informação, eu coloco significado (informação semântica). Não podemos, por exemplo, afirmar que a palavra “significado”, por não estar bem definida, não tem significado, isso seria uma contradição lógica.
Em todo caso, vemos por essa escadinha que a partir de certo momento não entendemos bem o significado dos termos e portanto a ciência do século XXI tem um longo caminho a percorrer. A ciência não é materialista, nem fisicalista, nem mesmo naturalista. Talvez seja “informacional”, o que quer que isso “signifique”...

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