Fêmeas agressivas


30/11/2007 - 10h32


Antílope prefere fêmea agressiva


RICARDO BONALUME NETO da Folha de S.Paulo


Assédio sexual, agressividade, promiscuidade. Se elas fossem mulheres não seria possível escrever sobre seu comportamento sexual em um jornal lido por toda a família. Mas elas são antílopes, e a descoberta de como fazem sexo virou de cabeça para baixo um quase-dogma da biologia.
O biólogo Jakob Bro-Joergensen, da Universidade de Jyväskylä, Finlândia, descobriu que entre os antílopes topi africanos (Damaliscus lunatus), o tradicional "conflito sexual" entre indivíduos machos e fêmeas foi invertido.
Em vez de os machos importunarem as fêmeas com pedidos de mais e mais sexo, são essas meninas superpoderosas do reino animal que pedem agressivamente para serem "cobertas", segundo estudo de Bro-Joergensen publicado na revista "Current Biology".
Segundo a teoria do conflito sexual, os machos tendem a ser mais persistentes que as fêmeas em busca de sexo porque o esperma é barato e abundante, ao contrário do óvulo.
Ao macho interessaria fazer sexo com o maior número de fêmeas e com isso espalhar seus genes e ter mais descendentes; já a fêmea guardaria zelosamente seu óvulo para ser fecundado apenas pelo melhor parceiro. "Hoje não, querido, estou com dor de cabeça" é uma frase explicável pela teoria da evolução, de certa forma.
Os antílopes topi têm um padrão de reprodução original. As fêmeas se tornam receptivas aos machos durante apenas um dia, que pode ocorrer num período de um mês e meio por ano. Em compensação, elas fazem sexo com quatro machos em seqüência, em média.
O local da ação é uma espécie de "arena de acasalamento", conhecida como "lek". No centro da arena se posicionam os machos mais vistosos e mais cobiçados pelas fêmeas.
"Quando eu fiz minha pesquisa de doutorado com os antílopes topi, percebi que as fêmeas eram estranhamente agressivas e competitivas quando faziam sexo com machos favoritos. Por que seria assim? Eu suspeitava que neste caso seria provável os machos estarem sendo perseguidos para fazer sexo, o que contrastava com o que geralmente é esperado", disse Bro-Joergensen em entrevista à Folha.
Ele também notou que os machos ficavam completamente exaustos durante picos na atividade reprodutiva, o que o deixou "determinado a investigar se haveria um conflito de interesses entre machos discriminatórios, que eram cuidadosos com o modo como dispensavam seu esperma limitado, e fêmeas agressivas que queriam incrementar seu índice de acasalamentos".
Era comum uma fêmea dominante tentar interromper o coito do macho na qual está interessado. Ela vence pelo cansaço; o macho acaba optando por transar com a intrusa.
Mas há limites. O macho rejeita a fêmea agressiva se eles já tiverem acasalado várias vezes antes. Ele prefere ir atrás das fêmeas mais "sem graça", mas com "quilometragem" relativamente menor, para assegurar que serão mesmo os pais dos filhotes, algo que a "guerra de esperma" no útero das mais fecundadas não garante.
"O que é provavelmente crítico entre os antílopes topi é que as fêmeas são altamente promíscuas, não apenas no sentido de que elas acasalam com vários machos, mas também fazem sexo muitas vezes com cada um. Isso promove a diminuição do esperma nos machos favoritos", diz o pesquisador, hoje trabalhando no Instituto de Zoologia da Sociedade Zoológica de Londres.
A forte sincronia de reprodução e o fato de que as fêmeas preferem uns poucos machos mais "gostosões" aumenta a demanda dos estoques de esperma desses machos favoritos.

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