Dossiê: Tramas de amor e desejo - Imagens de um cérebro apaixonado
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Da Mente e Cérebro:
Com ajuda da ressonância magnética funcional, pesquisadores descobriram como o amor subverte nossa vida emocional
por Andreas Bartels e Semir Zeki
CORES DA PAIXÃO: As regiões cerebrais do sistema límbico em amarelo são ativas apenas nos apaixonados que no tomógrafo viram uma foto do parceiro. Os “módulos do amor” estão em meio a quatro estruturas diferentes, sobre cujas funções sabe-se alguma coisa: o córtex cingular ajuda a reconhecer sensações, a ínsula integra a informação dos órgãos sensoriais, enquanto partes do núcleo caudado e do putâmen também estão ativas na excitação sexual.
O amor é a espiritualização dos sentidos, dizia a sacerdotisa Diotima a Sócrates. E obviamente tudo que pensamos e sentimos, inclusive o amor, acontece em nossa cabeça. Até recentemente, os pesquisadores do cérebro pouco contribuíram para a compreensão dessa emoção tão especial. Eles estudavam principalmente sensações negativas como medo ou depressão, já que é mais fácil irritar ou assustar voluntários que produzir alegria ou mesmo amor de modo confiável em laboratório. Ainda assim, decidimos dar o primeiro passo para o desbravamento neurocientífico de sensações positivas. Começamos com o amor romântico.
Pedimos a milhares de estudantes de Londres e adjacências que se manifestassem caso se sentissem “truly, madly and deeply”, ou seja, “verdadeira, enlouquecida e profundamente” apaixonados. Recebemos cerca de 70 respostas, três quartos de mulheres. Solicitamos uma breve descrição da relação, fizemos entrevistas e finalmente selecionamos 11 voluntárias e seis voluntários, numa composição multicultural e multiétnica, com 11 nacionalidades diferentes.
Surpreendentemente, nenhum dos participantes acabara de se apaixonar– todos estavam em uma relação mais longa, de dois anos em média, e extremamente satisfatória. Mas a seleção tinha funcionado: ao responder a um questionário psicológico do amor que já tinha sido aplicado a centenas de apaixonados, nossos voluntários atingiram “valores de amor” mais altos que os melhores do estudo anterior. Para maior garantia, fizemos um teste psicológico suplementar que, à semelhança de um detector de mentiras, fundamentava-se na medição da resistência da pele. Quase todos os voluntários começaram a suar diante da foto do parceiro.
Analisamos os apaixonados com a tomografia de ressonância magnética funcional, procedimento que torna visível a atividade de várias áreas cerebrais em um determinado momento, com alta resolução espacial. É verdade que o desconfortável tubo do scanner não é exatamente propício à produção de sentimentos amorosos. Mostramos ao voluntário deitado no scanner uma foto da pessoa amada, pedindo que pensasse nela e relaxasse. Como nos relataram, todos puderam sentir claramente seu afeto.
Continue a ler aqui.
PARA CONHECER MAIS
The Neural Basis of Romantic Love.
A. Bartels, S. Zeki em Neuroreport 11, pág. 3.829, 2000.
www.vislab.ucl.ac.uk
Andreas Bartels e Semir Zeki são pesquisadores do University College de Londres.
Com ajuda da ressonância magnética funcional, pesquisadores descobriram como o amor subverte nossa vida emocional
por Andreas Bartels e Semir Zeki
CORES DA PAIXÃO: As regiões cerebrais do sistema límbico em amarelo são ativas apenas nos apaixonados que no tomógrafo viram uma foto do parceiro. Os “módulos do amor” estão em meio a quatro estruturas diferentes, sobre cujas funções sabe-se alguma coisa: o córtex cingular ajuda a reconhecer sensações, a ínsula integra a informação dos órgãos sensoriais, enquanto partes do núcleo caudado e do putâmen também estão ativas na excitação sexual.
O amor é a espiritualização dos sentidos, dizia a sacerdotisa Diotima a Sócrates. E obviamente tudo que pensamos e sentimos, inclusive o amor, acontece em nossa cabeça. Até recentemente, os pesquisadores do cérebro pouco contribuíram para a compreensão dessa emoção tão especial. Eles estudavam principalmente sensações negativas como medo ou depressão, já que é mais fácil irritar ou assustar voluntários que produzir alegria ou mesmo amor de modo confiável em laboratório. Ainda assim, decidimos dar o primeiro passo para o desbravamento neurocientífico de sensações positivas. Começamos com o amor romântico.
Pedimos a milhares de estudantes de Londres e adjacências que se manifestassem caso se sentissem “truly, madly and deeply”, ou seja, “verdadeira, enlouquecida e profundamente” apaixonados. Recebemos cerca de 70 respostas, três quartos de mulheres. Solicitamos uma breve descrição da relação, fizemos entrevistas e finalmente selecionamos 11 voluntárias e seis voluntários, numa composição multicultural e multiétnica, com 11 nacionalidades diferentes.
Surpreendentemente, nenhum dos participantes acabara de se apaixonar– todos estavam em uma relação mais longa, de dois anos em média, e extremamente satisfatória. Mas a seleção tinha funcionado: ao responder a um questionário psicológico do amor que já tinha sido aplicado a centenas de apaixonados, nossos voluntários atingiram “valores de amor” mais altos que os melhores do estudo anterior. Para maior garantia, fizemos um teste psicológico suplementar que, à semelhança de um detector de mentiras, fundamentava-se na medição da resistência da pele. Quase todos os voluntários começaram a suar diante da foto do parceiro.
Analisamos os apaixonados com a tomografia de ressonância magnética funcional, procedimento que torna visível a atividade de várias áreas cerebrais em um determinado momento, com alta resolução espacial. É verdade que o desconfortável tubo do scanner não é exatamente propício à produção de sentimentos amorosos. Mostramos ao voluntário deitado no scanner uma foto da pessoa amada, pedindo que pensasse nela e relaxasse. Como nos relataram, todos puderam sentir claramente seu afeto.
Continue a ler aqui.
PARA CONHECER MAIS
The Neural Basis of Romantic Love.
A. Bartels, S. Zeki em Neuroreport 11, pág. 3.829, 2000.
www.vislab.ucl.ac.uk
Andreas Bartels e Semir Zeki são pesquisadores do University College de Londres.
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