A Mediana não é a mensagem


Que coincidência! Na última aula de Estatística para Física Médica, eu contei esta estória sobre o Stephen Jay Gould, a mesma que a bióloga Lúcia Malla relembrou hoje em seu blog:


Na ciência, trabalhamos com hipóteses, que serão de 0 a 100% corretas, com todas as tonalidades de cinza no meio desses números. O melhor texto que conheço sobre o assunto - e uma bela lição de vida - é o famoso "The median isn't the message", que conta como em 1982 o paleontólogo e divulgador da ciência Stephen Jay Gould foi diagnosticado com um mesotelioma abdominal (um câncer raro) e, ao invés de engolir a sentença de morte de 8 meses que a literatura médica lhe evidenciava, resolveu entender a estatística por trás do estudo. Nas palavras dele:

"When I learned about the eight-month median, my first intellectual reaction was: fine, half the people will live longer; now what are my chances of being in that half. I read for a furious and nervous hour and concluded, with relief: damned good. I possessed every one of the characteristics conferring a probability of longer life: I was young; my disease had been recognized in a relatively early stage; I would receive the nation's best medical treatment; I had the world to live for; I knew how to read the data properly and not despair."Gould viveu 20 anos mais depois do seu diagnóstico - ou seja, superou o valor da mediana em quase 30 vezes.

Veja bem, o fato dele ter vivido 30 vezes a mais que a literatura médica previa não significava que a tal literatura estava errada - porque a nossa percepção do mundo da ciência é probabilística, não certeira. Ele apenas soube interpretar tal dado da forma adequada, com as variáveis pertinentes, e enfrentar o problema sem querer se enganar com uma certeza inexistente. Ele preferiu apostar na incerteza estatística - e foi um vencedor.


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