Sistemas dinâmicos em poesia



Embora não exista nada de novo abaixo do sol, a seguinte idéia acho que é minha (por enquanto): fazer poemas usando os tradutores da internet.



O jeito é o seguinte: comece com seu poeminha ruinzinho e coloque num tradutor (vou usar aqui o Google translator com traduções inglês-português). Seja P1 a primeira versão em portugues, I1 a primeira versão em inglês, Pj a j-ésima versão em português, etc.

Eu proponho um método iterativo onde você faz uma tradução sequencial P1 -> I1 -> P2 -> I2 -> ... Pj -> Ij -> etc... até o processo convergir. Isso equivale a atingir um estado estacionário tipo "ponto fixo" na teoria de sistemas dinâmicos.

Vejamos um exemplo (as palavras em vermelho foram mudadas pelo tradutor):

Eu não voltarei

Juan Ramón Jiménez


(P1) Eu não voltarei. E a noite
morna, serena, calada,
adormecerá tudo, sob
sua lua solitária.
Meu corpo estará ausente,
e pela janela alta
entrará a brisa fresca
a perguntar por minha alma.

(I1) I do not come back. And the night
warm, calm, quiet,
all sleeping under
its solitary moon.
My body is absent,
and the high window
enter the fresh breeze
to ask for my soul.

(P2) Eu não voltaria. E a noite
calorosa, calma, calma,
todos dormindo sob
sua lua solitária.
Meu corpo está ausente,
e os altos janela
introduza a brisa fresca
para pedir a minha alma.


(I2) I do not come back. And the night
warm, calm, calm,
all sleeping under
its solitary moon.
My body is absent,
and the high window
enter the fresh breeze
to ask for my soul.

(p3) Eu não voltaria. E a noite
calorosa, calma, calma,
todos dormindo sob
sua lua solitária.
Meu corpo está ausente,
e os altos janela
introduza a brisa fresca
para pedir a minha alma.

OK, ficou meio estranho no final, você pode também dizer que o poema original era mais bonito... Essa é uma boa pergunta: será que por efeitos entrópicos, o poema final (o ponto fixo dinâmico) é sempre inferior esteticamente ao poema original? O poema original precisa necessariamente do demônio de Maxwell da consciência?

Tentemos de novo:

(P1) É pau, é pedra, é o fim do caminho...
(I1) It is wood, and stone, is the end of the road ...
(P2) Trata-se de madeira e pedra, é o fim da estrada ...
(I2) It is wood and stone, is the end of the road ... (eliminou a vírgula!)
(P3) Trata-se de madeira e pedra, é o fim da estrada ...

OK, OK, um dia desses publico algo melhor.

Interessante que o google translator é bem eficiente (no sentido que converge rápido para o ponto fixo) enquanto que outros tradutores são bem mais lentos. Será que o número de ciclos até a convergência poderia ser uma medida de eficiência dos tradutores?

Frustrado com o inglês, tentei o verso do Jobim para japonês... O ponto fixo não perdeu muito, lembra poesia Haikai:

Madeira, pedra, fim do caminho ...

Alguém topa brincar com isso (sistemas dinâmicos aplicado à geração de poesia?)


Comentários

Nestor Caticha disse…
gostei de
"comece com seu poeminha ruinzinho".
Desde criança sempre achei o JRJ bem ruim. Em particular "Platero y yo" era um terror da minha infancia. Talvez devesse reler. POde ser que a culpa fosse minha.

O que voce esta estudando tem algo a ver com autovetores da transformacao P_{i-1}->I->P_i.
ou P_{i-1}=>P_i ?

Claro que é nao linear, entao fica dificil expandir um texto em componentes ....

Se voce justapoe dois poemas, a convergencia é para a justaposicao dos pontos fixos originais?

Um modelo de memoria associativa pode funcionar neste contexto?

As regras dinamicas induzidas pelos dicionarios...
qual ó numero maximo de pontos fixos de um dado tamanho?

Nao precisa ser poema, pois alias é muito dificil definir o que é um poema.

E se voce adicionar ruido, ser que consegue fazer um poema melhor?
quem julga?

Boa Osame, divertido.
Osame Kinouchi disse…
Pois é, ainda estou na dúvida se precisamos de um Demônio de Maxwell para evitar a degradação entrópica dos textos...

Quando eu criar um texto por esse método que eu considere melhor que o texto original, eu comento aqui.

Acho que ruído só vai piorar. O que falta para um algoritmo Darwiniano aqui não é a mutação, mas a seleção...

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